Valorização cambial lança sementes de autodestruição em meio ao paradoxo das políticas monetárias

Por Kevin Buckland e Netty Ismail.

A valorização registrada neste mês pelas moedas de maior rendimento corre o risco de se autoextinguir.

Moedas como o dólar autraliano e o rand sul-africano ganharam força nas últimas três semanas depois que o Federal Reserve segurou os aumentos nas taxas de juros, em setembro, citando a turbulência nos mercados internacionais. A decisão preservou sua vantagem nos rendimentos sobre os EUA, impulsionando recuperações cambiais em relação às suas mínimas deste ano.

O problema é que esses ganhos estão começando a contribuir para o tipo de calmaria que os bancos centrais gostariam de ver antes de agirem. Isso poderá reacender a ameaça de um aumento do Fed. E essa perspectiva poderá tirar a recuperação dos trilhos, estimular a volatilidade e iniciar o ciclo novamente.

“Se os mercados se tornarem complacentes novamente, esperando que o Fed simplesmente mantenha as taxas de juros baixas por um tempo maior, eles na verdade estarão criando as condições para que o Fed siga adiante e inicie a normalização de sua política monetária”, disse Mansoor Mohi-uddin, estrategista sênior de mercados do Royal Bank of Scotland Group Plc em Cingapura. “É por isso que eu continuo cauteloso em relação às moedas ligadas a commodities e aos mercados emergentes”.

Trata-se de um paradoxo que fez com que o dólar australiano atingisse o nível mais baixo em seis anos no mês passado, de US$ 0,6896, antes de iniciar outubro com uma sequência de nove dias de ganhos — seu aumento mais longo desde 2009 — enquanto os contratos futuros mostravam o recuo das probabilidades de um aumento do Fed até dezembro. Somando-se à sensação de renovada estabilidade, um indicador das moedas de mercados emergentes recuperou quase todas as suas perdas desde que a China inesperadamente desvalorizou o yuan, em 11 de agosto, enquanto um índice de volatilidade recuou em relação à maior alta observada em três anos e meio.

Perspectiva sombria

As moedas de rendimento mais elevado se valorizaram ao mesmo tempo em que a perspectiva econômica global se tornou mais sombria. Neste mês, o Fundo Monetário Internacional reduziu sua projeção de crescimento de 2015 para 3,1 por cento, contra 3,3 por cento em julho, citando a desaceleração dos mercados emergentes impulsionada pelos preços mais baixos das commodities.

Contudo, as oscilações de segunda-feira mostraram como as valorizações cambiais podem ser precárias.

O dólar australiano avançou brevemente depois que os dados mostraram que a economia da China teve uma desaceleração menor que a prevista pelos economistas, mas caiu mais tarde e diminuiu seu ganho neste mês para pouco mais de 3 por cento. O rand sul-africano atingiu o nível mais alto em quase dois meses antes de cair no mesmo dia. Ainda está em alta — juntamente com as moedas turca e brasileira — em relação à baixa recorde registrada em setembro.

Procrastinação do Fed

O Emerging-Market Volatility Index, do JPMorgan Chase Co., caiu 2 pontos percentuais em relação ao seu pico do mês passado, de 13,1 por cento, enquanto os traders de swaps reduziram suas expectativas para o nível da taxa do Fed daqui a um ano para apenas 0,43 por cento em 15 de outubro, menor nível em 12 meses.

“As moedas de mercados emergentes e ligadas a commodities parecem dependentes, e de forma pouco saudável, em relação à procrastinação do Fed”, disse Sean Callow, estrategista cambial do Westpac Banking Corp. em Sydney. “Os fatores que fizeram com que o Fed esperasse para aplicar um aumento em setembro são aqueles que mais deveriam preocupar as moedas de mercados emergentes e ligadas a commodities”.

As minutas da reunião de 16 e 17 de setembro do Comitê Federal de Mercado Aberto mostraram que seus membros evitaram aplicar o primeiro incremento à taxa de juros desde 2006 em meio à preocupação de que a desaceleração do crescimento na China contaminasse outros países em desenvolvimento.

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