O homem que decidirá o destino do Brasil quer algo em troca

Por André Soliani, Arnaldo Galvão e David Biller.

Desde a eclosão de um amplo escândalo de corrupção na Petrobras, há 19 meses, muitas pessoas representaram a crise em seus altos e baixos. A presidente Dilma Rousseff, é claro, desempenhou esse papel durante boa parte desse tempo, mas também o fizeram pessoas menos conhecidas, como o cabeça de um esquema de lavagem de dinheiro e um combativo juiz federal.

Agora, é a vez de Eduardo Cunha.

Ninguém, no momento, é mais importante no Brasil do que o deputado de 57 anos. Como presidente da Câmara, ele, sozinho, tem o poder de iniciar ou arquivar pedidos de impeachment contra a pressionada Dilma. Há 11 pedidos de impeachment esperando sua decisão.

Cunha também é um homem com história atribulada e, mais importante, coloca de lado qualquer chance de uma rápida resolução. Após ter se tornado alvo de investigação de corrupção, Cunha tem medo, segundo uma fonte que se reuniu com ele recentemente, de ser tirado do cargo no momento em que concordar em iniciar o processo de impeachment contra Dilma.

“Ele tem o trunfo do impeachment, mas é prisioneiro desse trunfo”, disse o deputado Chico Alencar, líder na Câmara do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que está exigindo a renúncia de Cunha. Na luta por sua sobrevivência política, Cunha está contando com o “silêncio da maioria” dos parlamentares que precisam de sua ajuda para tirar Dilma do cargo, disse ele. “É um jogo de interesses”.

Cunha já negou várias vezes ter participado de qualquer irregularidade no escândalo de corrupção, mas não quis dar entrevista.

Medidas fiscais estagnadas

O dilema dele, argumentam muitos, é a maior razão para a paralisação da máquina política do Brasil. Enquanto ele atrasar a decisão sobre o processo de impeachment o foco permanecerá nele e não nas medidas fiscais necessárias para conter o aumento do déficit orçamentário, domar a inflação e, afinal, colocar a maior economia da América Latina de volta no caminho do crescimento.

Cunha anunciou recentemente que estava indo, como deputado, para a oposição ao governo e passou a maior parte das últimas semanas em reuniões a portas fechadas com pelo menos um membro importante do governo e também com várias facções da oposição que precisam de seu apoio para tirar Dilma da Presidência, segundo fontes que participaram das reuniões.

“Ele está usando o poder que tem no processo de impeachment para adiar qualquer investigação”, disse David Fleischer, professor emérito de Ciência Política da Universidade de Brasília sobre sua participação no esquema de corrupção. “Se ele não fizer nada, a oposição ficará muito aborrecida. Mas se ele fizer algo e instalar o processo de impeachment, o governo ficará muito aborrecido”.

Cunha, por meio de sua assessoria, negou que as reuniões tenham como objetivo negociar com governo ou oposição qualquer tipo de proteção a ele.

Propinas e lavagem de dinheiro

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou Cunha ao Supremo Tribunal Federal pelo recebimento de US$ 5 milhões em propinas ligadas a contratos com a Petrobras e pela lavagem de parte do dinheiro por meio de uma igreja, segundo a denúncia. O STF está aguardando a defesa de Cunha para decidir se vai julgá-lo. Janot também está pedindo ao STF a abertura de investigação sobre as contas bancárias que o deputado e sua família mantinham na Suíça e que seriam abastecidas com dinheiro ilícito.

Cunha, que está em seu quarto mandato consecutivo como deputado federal, também tem um programa diário na rádio evangélica Melodia FM, do Rio. Ele também acusou Janot de persegui-lo ao vazar “seletivamente” informações à imprensa para enfraquecê-lo politicamente. Cunha prometeu provar sua inocência e disse que não renunciará à Presidência da Câmara.

“Isso é uma perseguição clara”, disse em comunicado divulgado neste mês.

Derrotas devastadoras

Enquanto se defende das acusações, Cunha se transformou em um dos principais rivais de Dilma e arma da oposição. Ele encabeçou algumas das derrotas mais devastadoras da presidente no Congresso, incluindo uma tentativa de aumentar os gastos previdenciários que ameaçam inchar um déficit orçamentário que já é o mais amplo desde o início da série histórica iniciada em 2002.

Cunha, é claro, não pode adiar indefinidamente sua decisão sobre o impeachment. Enquanto isso, as reuniões nos bastidores continuam.

“Se ele for inteligente como as pessoas acham que ele é, conseguirá negociar uma saída política, mas não jurídica”, disse Thiago de Aragão, sócio e diretor de estratégia na consultoria de risco político Arko Advice em Brasília. “Ele vai se agarrar ao poder”.

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