Por Anna Edgerton e Arnaldo Galvão.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ganhou algum espaço para respirar na última semana após o Congresso aprovar medidas cruciais para seu plano de alcançar um superávit primário e trazer transparência às finanças públicas.
O alívio vem após meses de tensão entre Levy e o PT, que alimentou especulações de que ele estaria à beira de pedir demissão ou ser substituído. Membros do partido, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, supostamente criticaram o foco do ministro na austeridade fiscal em meio a uma profunda recessão. Mas o Congresso, nos últimos dias, manteve vetos presidenciais evitando aumentos nos gastos do governo e a Câmara aprovou o projeto da repatriação de ativos, o que poderá elevar a arrecadação.
“Com certeza fortalece a posição do Levy dentro e fora do Senado”, disse Humberto Costa, líder do Partido dos Trabalhadores no Senado. “A situação mudou, ainda não é ideal, mas agora começa a favorecer a votação das medidas do ajuste”.
A tensão diminuiu no fim de semana quando Levy foi com a presidente Dilma Rousseff à Turquia para a cúpula do G20, de acordo com um assessor do governo com conhecimento direto dessas reuniões. Ele ajudou a finalizar os discursos da presidente para a conferência e os dois passaram a maior parte da viagem de avião de volta discutindo planos com um conselheiro próximo, disse o assessor, que pediu para não ser identificado porque foram conversas privadas. Dilma disse a jornalistas na Turquia que discordava das críticas de Lula a seu ministro e que gostaria de mantê-lo no cargo.
Mercados reanimados
Os ativos brasileiros se valorizaram com as declarações da presidente, pois os investidores apostam que a confiança em seu ministro da Fazenda iria aumentar as chances de que outras medidas de austeridade de Levy sejam aprovadas. O real valorizou 3,5 por cento nesta semana, o melhor desempenho entre as principais moedas monitoradas pela Bloomberg.
A reaproximação de Levy com Dilma no fim de semana contrasta com relatos em meses anteriores de que ele estava fora das discussões políticas. Em maio, ele não participou de uma entrevista coletiva sobre reduções de gastos depois de informações de que defendia cortes maiores. Em outubro, ele reclamou com a presidente de que os ataques partidários estavam minando os esforços para aumentar a confiança dos investidores. Isso levou a especulações sobre a sua saída do governo e a moeda desvalorizou 3,2 por cento.
Com Levy recuperando parte do seu capital político nos últimos dias, agora ele deve apresentar um plano para a retomada de crescimento, afirmou Paulo Pimenta, deputado federal do PT e líder do governo na Comissão Mista de Orçamento no Congresso.
Esse plano pode não vir imediatamente, já que o ministro está pressionando o Congresso para aprovar medidas adicionais de austeridade fiscal, como a recriação do imposto sobre as transações bancárias, conhecido como CPMF. Levy disse a jornalistas em Nova York, na quinta-feira, que o Brasil ainda está “em construção” e que a economia só vai melhorar quando os problemas fiscais forem resolvidos. A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda não respondeu a um pedido de comentários. “Temos uma política econômica que tem etapas: a primeira etapa é o ajuste e estamos entregando o ajuste que o governo pediu. O ajuste foi feito sob o compromisso de que seria uma travessia para um novo momento de crescimento, geração de emprego, estabilização da inflação”, disse Pimenta.
“Se ele for capaz de conduzir essa segunda etapa, ótimo. A questão não é Levy, Meirelles ou seja quem for. O governo pediu um ajuste fiscal com uma série de medidas duras e aprovamos todas. Agora, queremos a segunda etapa”, disse ele.
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