Fed talvez já tenha cometido erro em política monetária

Por Simon Kennedy.

O Federal Reserve pode já ter cometido um equívoco em termos de política monetária e aberto caminho para a próxima recessão dos EUA.

Em um momento em que alguns economistas, como o ex- secretário do Tesouro dos EUA Lawrence Summers, alertam que o Fed erraria se elevasse as taxas de juros em dezembro, Paul Mortimer-Lee, do BNP Paribas, está tomando um rumo diferente ao argumentar que o banco central pode já ter se equivocado por não elevar sua taxa mais cedo.

“Os dados podem já terem sido lançados e o caminho para a próxima recessão pode ter sido tomado”, disse Mortimer-Lee, economista-chefe do BNP Paribas para a América do Norte, a clientes em um relatório na semana passada. “O motivo para a nossa preocupação com a recessão não se deve tanto ao que o Fed está prestes a fazer — provavelmente embarcar em um lento ciclo de aumentos a partir de dezembro –, mas sim ao fato de o banco não ter iniciado o aperto muito antes”.

A preocupação dele é que ao esperar que a taxa de desemprego caia para 5 por cento, como ocorreu em outubro, o Fed esperou demais para conseguir, agora, um pouso suave. A taxa já está próxima de 4,9 por cento, nível no qual, segundo cálculos das autoridades do Fed, empurra os preços para cima, mas essa estimativa poderia estar baixa demais e o aumento recente nos salários sugere que o índice de desemprego pode estar por trás do gatilho da inflação, disse ele.

“Quanto mais baixa a taxa de desemprego, maiores as chances de que isso termine em recessão, em mais desinflação e em um retorno às taxas zero”, disse Mortimer-Lee, ex-economista do Banco da Inglaterra.

O fato de a economia já estar crescendo mais rapidamente do que sua tendência de longo prazo implica que a política monetária possa estar excessivamente flexível e que permanecerá assim se o Fed levar adiante sua promessa de aumentar as taxas gradualmente, elevando o risco de um superaquecimento, disse ele. Quanto à inflação, as expectativas fracas do investidor para a taxa podem ser difíceis de aumentar devido ao fortalecimento do dólar, o que significa que as taxas mais elevadas apenas intensificarão essas apostas.

O resultado é que como o desemprego provavelmente atingirá o piso abaixo do nível atual, a estabilização da inflação poderá, em última análise, fazer com que o Fed tenha que restringir sua política o suficiente para aumentar o desemprego em meio ponto percentual, um montante tradicionalmente grande o suficiente para provocar uma recessão, disse Mortimer-Lee.

Volta ao equilíbrio

“A taxa de desemprego pode ficar tão baixa que o incremento necessário para trazê-la de volta ao equilíbrio será maior do que tudo o que já tenhamos visto sem uma recessão”, disse ele.

Teria sido melhor se o Fed tivesse elevado as taxas há um ano, quando o crescimento econômico e o mercado de trabalho estavam mais fortes, a indústria pesava menos, os mercados emergentes estavam em melhor forma, os preços do petróleo estavam mais elevados e as condições financeiras eram mais brandas, disse Mortimer-Lee.

“O equívoco pode não estar no futuro, mas no passado, e o Fed e a economia dos EUA podem já estarem presos a esses erros anteriores”, disse ele. “Existe um sério risco de recessão nos EUA nos próximos anos”.

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