Por Rich Miller.
Investidores de renda fixa têm mais um motivo para perder o sono após a eleição de Donald Trump na semana passada: alguns dos aliados do presidente eleito dos EUA não são fãs do balanço patrimonial expandido do banco central (Federal Reserve) e defendem que seja reduzido.
O argumento deles é que a carteira de títulos do Fed prejudicou a economia ao canalizar crédito para corporações e para o governo federal – em detrimento de pequenas empresas, mais novas e dinâmicas. Eles também acham que as políticas do banco central foram ruins para poupadores e aposentados.
As compras de títulos pelo Fed “foram muito prejudiciais”, afirmou por e-mail David Malpass, assessor sênior de economia da equipe de transição de Trump. Segundo ele, a autoridade monetária “precisa comunicar um plano para reduzir seu balanço patrimonial”.
O presidente do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara de Deputados, Jeb Hensarling, que trabalhou de perto com o vice-presidente eleito Mike Pence quando o último fazia parte do poder legislativo, também defende que o banco central diminua seu balanço patrimonial de US$ 4,5 trilhões.
“Passou muito da hora de o Fed se comprometer com uma regra de política monetária — com credibilidade e que possa ser comprovada — para encolher seu balanço patrimonial e parar de escolher vencedores e perdedores nos mercados de crédito”, disse o deputado republicano do Texas durante uma audiência sobre as medidas do banco central em 22 de junho.
Os preços dos títulos desabaram desde a eleição de Trump em 8 de novembro, diante da expectativa de que as propostas dele de redução de impostos e aumento dos gastos militares e com infraestrutura acelerem o crescimento econômico e a inflação. Um esforço para reduzir a carteira de títulos do Fed poderia aumentar a pressão para queda dos preços dos papéis, ao expandir a oferta que os investidores precisariam absorver.
Pró-crescimento
“As políticas do Fed contribuíram para a fraqueza da renda da classe média ao ajudar os emissores de títulos — principalmente o governo e as grandes corporações — às custas de pequenas empresas e poupadores”, afirmou Malpass, que comanda a Encima Global, em Nova York.
A “solução pró-crescimento” seria incentivar a concessão de empréstimos bancários, enxugar a carteira de títulos do Fed e limitar a taxa de juros que a instituição paga sobre as reservas excedentes dos bancos comerciais, ele propôs.
Em entrevista à Bloomberg Radio em 11 de novembro, Judy Shelton, que também faz parte da equipe de assessores de Trump, ecoou as preocupações de Malpass. A codiretora do projeto Sound Money, da Atlas Network, em Washington, sugeriu que as políticas do Fed estavam canalizando recursos de baixo custo para “investidores ricos e corporações tomadoras de empréstimos e até para o governo inchado” e não para “a pessoa comum que tem apenas uma caderneta de poupança”.
Trump criticou o Fed durante a campanha e chegou a dizer que os juros baixos estavam alimentando uma “bolha grande, gorda e feia” no mercado acionário. Ele também reclamou que o banco central tinha maior viés político do que sua rival democrata, Hillary Clinton. A presidente do Fed, Janet Yellen, negou repetidas vezes essa acusação.
Com duas vagas abertas no comitê de sete pessoas do Fed, Trump terá oportunidade de nomear gente mais alinhada às ideias dele depois que assumir o cargo, em janeiro. Ele também poderá escolher quem serão os próximos presidente e vice-presidente da instituição em 2018, quando terminam os mandatos de Yellen e de seu vice, Stanley Fischer.
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