Ano pode ser ainda pior que 2018 para setor tecnológico da China

Por Edwin Chan, Lulu Yilun Chen e David Ramli com a colaboração de Jeff Black.

Muitas das principais empresas de tecnologia da China ficaram contentes em deixar 2018 para trás. Mas este ano poderia trazer desafios ainda maiores.

De conflitos com a lei e uma impressionante queda do mercado a repressões regulatórias e até mesmo uma ação destrutiva dos EUA, as maiores corporações chinesas resistiram a uma série de catástrofes aparentemente aleatórias. Em 2019, elas enfrentam um inimigo comum, muito mais inexorável: o rápido esfriamento da economia doméstica.

A desaceleração da China vai repercutir em todo o setor corporativo. As empresas que já enfrentam uma maior restrição do crédito verão um ambiente ainda mais difícil, já que as tensões com os EUA enfraquecem a atividade industrial e o sentimento do consumidor na segunda maior economia do mundo. A chocante redução das perspectivas da Apple só exacerba o temor de que a companhia esteja perdendo fôlego mais rapidamente do que se imaginava.

“O sentimento não está bom. Ainda há incertezas macroeconômicas, obstáculos regulatórios e concorrência na internet da China, onde todos precisam investir mais para compensar o crescimento mais lento dos usuários”, disse Jerry Liu, analista do UBS. “As empresas na China foram negociadas em média acima que as dos EUA, mas agora as avaliações caíram e convergiram. Isso mostra os obstáculos que a internet está enfrentando na China.”

Tudo isso se traduz em consequências reais para o setor tecnológico chinês. As enormes arrecadações de fundos – força vital de um setor de internet jovem – podem se dissipar: os negócios com capital de risco estão no nível mais baixo desde 2015, mesmo com a redução de tamanho dos financiamentos. Um exemplo é a Ofo, famosa pioneira do boom de compartilhamento de bicicletas na China, que quase apresentou o maior fracasso entre as startups do país em anos.

Quanto às gigantes mais endinheiradas, como Alibaba Group Holding e Tencent Holdings, elas não podem mais depender tanto do mercado doméstico para manter o crescimento da receita. O Morgan Stanley estima que a receita entre as ações de internet chinesas que cobre vai crescer 29 por cento em média em 2019 – menos que 30 por cento pela primeira vez desde pelo menos 2015.

Trata-se de uma mudança radical em relação ao início de 2018, quando parecia que a Tencent e sua turma estavam prestes a realizar o sonho de ultrapassar o Vale do Silício.

As coisas começaram a sair dos trilhos no segundo semestre do ano passado, quando a diretora financeira da Huawei Technologies, Meng Wanzhou, e o bilionário fundador da JD.com, Richard Liu, enfrentaram problemas jurídicos (por diferentes razões). A Didi Chuxing passou de queridinha nacional, pela maneira como superou a Uber, a inimiga pública número 1 quando dois de seus motoristas supostamente mataram passageiras. A Xiaomi e a Meituan Dianping, duas das mais promissoras empresas tecnológicas emergentes da China, perderam bilhões em valor de mercado desde sua estreia.

“O ano de 2018 marcou o início de outra transição para as empresas de internet da China, já que um cenário macro mais difícil do que o esperado reduziu as vendas”, escreveram analistas do Morgan Stanley liderados por Grace Chen e Alex Poon. “O risco macro está aumentando.”

Em 2019, os grandes nomes chineses da tecnologia precisarão enfrentar vários problemas. Os economistas projetam que o crescimento vai desacelerar para um ritmo anual de 6,2 por cento em 2019, o mais fraco desde 1990.

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