Por Bruce Douglas e Raymond Colitt.
O impopular e não eleito presidente do Brasil, Michel Temer, trabalhou bastante para abrir caminho para a recuperação da maior economia da América Latina. Contudo, com o desmoronamento de seu círculo íntimo e a queda do apoio no Congresso, a ambiciosa agenda de reformas do governo agora parece uma tarefa difícil.
Após perder meia dúzia de membros do gabinete em seus seis primeiros meses do cargo, Temer viu a saída de seu ministro de Relações Exteriores e o futuro do ministro-chefe da Casa Civil no governo continua incerto. Ao mesmo tempo, parte de seu partido no Congresso se rebelou e luta por poder. Não são bons sinais para a aprovação de uma reforma previdenciária que requer que os brasileiros trabalhem durante mais tempo.
Desde que assumiu a presidência, em maio, Temer tem ganhado elogios por privatizar parte da infraestrutura do Brasil e por abrir os campos de petróleo do país a empresas estrangeiras. Seu governo também aprovou no Congresso uma controversa proposta de emenda constitucional para imposição de um teto de gastos que ajudou a fortalecer o real. O mercado de ações acumula alta de 72 por cento em dólares nos últimos 12 meses. Mas se não desarmar a bomba-relógio da previdência, o governo verá a anulação de suas conquistas iniciais e abrirá caminho para uma venda de ativos generalizada.
A iminente publicação da chamada delação premiada do “fim do mundo” dos executivos da Odebrecht envolvidos na Operação Lava Jato complica o cenário político. Analistas estimam que políticos de todos os grandes partidos do Brasil serão implicados.
“No momento o mercado não está contabilizando corretamente o risco desse ambiente político conturbado”, disse Rafael Cortez, da Tendências Consultoria. “A situação é muito delicada.”
De fato, nas ruas a sensação é de que o Brasil ainda não deixou para trás a crise que sacudiu as bases econômicas e políticas do país. Os preços ao consumidor estão subindo menos e os custos dos empréstimos estão caindo. Mas muitos brasileiros ainda têm dificuldades para chegar ao fim do mês e o desemprego está no nível mais alto da história. Os servidores públicos, inclusive a polícia, têm protestado contra as medidas de austeridade em diversos estados e há manifestações anticorrupção planejadas para o fim deste mês.
Ao mesmo tempo, os rumores de descontentamento com a reforma da previdência estão ganhando força na Câmara dos Deputados. Na semana passada, um importante deputado do próprio partido de Temer, o PMDB, ameaçou romper com o governo e reunir os opositores da reforma da previdência.
Enquanto isso, metade da comissão parlamentar especial que analisa a legislação se opõe a um de seus princípios centrais — a idade mínima de aposentadoria –, segundo pesquisa publicada pelo jornal Folha de S.Paulo.
Outros dois ministros deixaram o governo na semana anterior ao carnaval. José Serra, o ministro das Relações Exteriores, renunciou citando motivos de saúde, enquanto Eliseu Padilha, o ministro-chefe da Casa Civil, entrou de licença para realização de uma cirurgia. Eles enfrentam acusações de corrupção, embora nenhum dos dois tenha sido acusado e ambos neguem qualquer irregularidade.
Após o fim do Carnaval, os políticos brasileiros estão finalmente voltando ao trabalho. Haverá eleições gerais em outubro de 2018, por isso o governo tem uma janela de oportunidade limitada para garantir apoio do Congresso para a reforma da previdência.
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