Por Samy Adghirni e Rachel Gamarski.
Candidatos azarões podem sair vitoriosos das eleições de 2018 no Brasil se o centro político estiver dividido, disse o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em entrevista na sede da Bloomberg, em Nova York.
O ex-presidente do Banco Central disse não se surpreender com o fato de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser novamente candidato, mas afirmou que o surgimento da “extrema direita” é novidade. Para Meirelles, que tem 72 anos de idade, a maioria dos brasileiros é de centro e ainda não tem um candidato definido. Questionado sobre suas ambições presidenciais, disse ser “cedo demais” para falar em uma possível candidatura.
Meirelles vem apostando sua reputação no comando da Fazenda em medidas de austeridade destinadas a restaurar a confiança dos investidores na maior economia da América Latina. Na entrevista, o ministro afirmou que a recuperação econômica do Brasil está ganhando força e já não depende tanto das decisões do Congresso. Ele também disse esperar que a reforma mais importante, a da Previdência, seja votada no mês que vem. Indagado novamente sobre seus planos para 2018, ele disse: “Estou focado em recuperar o Brasil. Se isso acontecer, pensaremos nos próximos passos.”
É grande a especulação de que Meirelles, engenheiro por formação, aproveitará sua grande visibilidade para se lançar na disputa presidencial de 2018. Na semana passada, parlamentares do seu partido, o PSD, anunciaram publicamente que apoiariam Meirelles como candidato presidencial e ressaltaram suas aptidões para o cargo. O ministro da Fazenda desconversou, dizendo por meio de sua conta no Twitter que está concentrado em seu trabalho atual. Ficou claro, porém, que ele não descarta a possibilidade de concorrer.
Meirelles foi eleito deputado federal pelo Estado de Goiás em 2002, mas não chegou a assumiu o cargo porque aceitou convite do então presidente Lula para comandar o Banco Central. Desde que deixou a função, em 2010, Meirelles ocupou diversos cargos no setor privado, incluindo o de presidente do conselho da J&F Investimentos, holding que controla a maior produtora de carne do mundo, a JBS.
Arquiteto da política econômica do presidente Michel Temer, Meirelles tem estado na linha de frente das batalhas políticas do governo. Ele ajudou a convencer parlamentares a aprovar, no ano passado, um teto para os gastos públicos e agora tenta persuadir deputados a votarem a reforma da Previdência. Temer considera essas medidas cruciais para reduzir o déficit orçamentário e lançar as bases para um crescimento sustentável.
Após anos de más notícias econômicas, o Brasil desfruta de uma nova safra de bons indicadores . O produto interno bruto cresceu mais do que o previsto no segundo trimestre, as expectativas de crescimento econômico estão em alta, o desemprego caiu e a inflação anual é a menor em 18 anos. O Ibovespa está perto de uma alta recorde, e a moeda tem se mostrado estável.
Mesmo assim, o nível de confiança do consumidor permanece baixo em meio aos efeitos duradouros da recessão e a notícias diárias sobre corrupção e uso indevido de recursos públicos. Nos últimos 30 dias, o dono da JBS foi preso, Temer foi alvo de uma segunda rodada de acusações criminais e a Polícia Federal divulgou fotos impressionantes da maior apreensão de dinheiro vivo da história em um apartamento de Salvador supostamente usado pelo peemedebista Geddel Vieira Lima, tido como um dos homens mais próximos ao presidente Temer.
Essa série de acusações criminais estaria alimentando a ascensão de políticos azarões e candidatos populistas para as eleições do ano que vem. Uma pesquisa publicada na terça-feira mostrou a contínua ascensão de Jair Bolsonaro, parlamentar de direita e ex-capitão do Exército conhecido por suas posições linha-dura a respeito da lei e da ordem e por declarações públicas incendiárias.
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