Por Mark Gilbert.
Era uma vez uma moeda chamada euro que tinha pretensão de desafiar o dólar como reserva de valor preferida pelo mundo. Hoje em dia, a moeda comum europeia anda desprestigiada. E à medida que os bancos europeus enxugam as atividades de negociação de ativos financeiros, o papel do euro no palco global deve diminuir ainda mais.
Há quase uma década, o Deutsche Bank previa que o euro poderia representar até 40 por cento das reservas cambiais globais. Mas de acordo com um relatório recente do Banco Central Europeu, sua utilização diminuiu em cada ano desta década e chegou a menos de 20 por cento no fim de 2015. A parcela ainda é maior que a do iene, terceiro colocado, com 4,1 por cento, mas muito distante da liderança do dólar, com 64,1 por cento.
O euro continua sendo a segunda moeda mais usada para pagamentos internacionais, mas sua parcela no total de transações encolheu para 31,47 por cento, comparado a 33,52 por cento no começo de 2014, de acordo com dados compilados pela Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (Swift). Já o yuan subiu da sétima para a quinta posição, embora sua parcela seja de apenas 1,76 por cento.
Outra nuvem no horizonte é o referendo britânico em 23 de junho sobre a permanência ou saída da União Europeia. O Reino Unido domina o mercado cambial mundial, lidando com 41 por cento de todas as negociações cambiais, de acordo com o último relatório do Banco de Compensações Internacionais (BIS). É mais que o dobro da parcela de 19 por cento dos EUA. Em terceiro lugar vem Cingapura, com 5,7 por cento.
Porém, se o Reino Unido ficar fora da UE, a capacidade dos operadores de Londres de negociar ativos denominados em euros vai diminuir. Por exemplo, o mercado de swaps de juros deve migrar para Paris – e o interesse que vem junto, de negociar a moeda em si, também deve minguar. Alguns negócios puramente cambiais cruzarão o Canal da Mancha junto com os instrumentos financeiros, porém boa parte deve desaparecer.
No entanto, a maior ameaça à posição do euro é o recuo dos bancos de investimento da Europa. No início da década, o Deutsche Bank, por exemplo, controlava mais de 18 por cento do mercado cambial e o Barclays tinha mais de 11 por cento. Essas participações encolheram para 7,9 por cento
e 5,7 por cento, respectivamente, de acordo com a última pesquisa da Euromoney.
Os bancos americanos também negociam euros, mas está claro que, à medida que as instituições europeias ficam menos ativas no mercado de câmbio, diminui a frequência de compra e venda de suas moedas. A libra esterlina também perdeu terreno. Sua parcela nos pagamentos globais caiu de 9,37 por cento para 8,78 por cento nos últimos dois anos, de acordo com números da Swift. Já a parcela do franco suíço avançou um pouco, de 1,38 por cento para 1,52 por cento, uma vez que a parcela do UBS no mercado de câmbio se recuperou de 7,3 por cento há um ano para 8,8 por cento.
Status não basta para garantir o sucesso de uma moeda. É impossível atribuir um valor exato à liquidez, mas o aperto de crédito nos ensinou que, quando o volume negociado diminui, o sistema financeiro sofre desproporcionalmente. O euro sobreviveu a uma crise existencial nos últimos anos, mas isso não ajudou a aumentar sua popularidade globalmente.
(Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus proprietários)
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