Por Fernando Travaglini.
Sinalização ligeiramente mais hawkish do Banco Central, indicando possível redução no ritmo de corte a partir de 2020, parece ampliar a divergência nas expectativas para até onde a Selic pode cair.
Para o Itaú, os diretores do BC calibraram a comunicação para reduzir apostas em um flexibilização monetária adicional. Mas se mostraram confortáveis para levar a taxa para 4%, muito em função das projeções apresentadas no comunicado do Copom, abaixo dos metas até 2021.
“Esperamos que o Copom reduza a taxa de juros para 4,5% em sua reunião no final deste ano e para 4% até março de 2020”, diz o Itaú em relatório assinado pelo economista-chefe, Mário Mesquita.
BTG Pactual, na mesma linha, acredita que, embora a comunicação tenha trazido algumas notas cautelosas, a avaliação geral do Copom e as previsões condicionais indicam altas chances de outro corte de 0,50 pp na reunião de dezembro, além de espaço para uma dose extra de flexibilização no início do próximo ano, diz relatório assinado por Claudio Ferraz. BTG vê duas quedas de 0,25 pp nas próximas reuniões de fevereiro e março do ano que vem.
“Nossa avaliação não apenas permanece a mesma, como apontamos em nosso comentário do Copom de outubro, com inflação muito bem comportada e capacidade ociosa significativa na economia, mas também aprendemos hoje que as previsões de inflação condicional do comitê preveem espaço para uma dose extra de alívio no próximo ano.”
Mais cauteloso
Para o Bradesco, por outro lado, o BC sinalizou cautela nos próximos passos e condicionou o grau de estímulo ao cenário econômico. Os modelos da autoridade monetária indicam que há espaço razoável para cortes adicionais. Já no balanço de riscos, mecanismos inerciais podem continuar a trazer surpresas baixistas para a inflação e, de outro lado, defasagem da política monetária pode conduzir a inflação à meta no horizonte relevante.
“Avaliação corrobora nossa projeção de Selic em 4,5% no encerramento do ciclo, mas não descarta reduções adicionais, a depender da evolução do cenário econômico”, diz o Bradesco em relatório assinado pelo diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos, Fernando Honorato Barbosa.
No meio do caminho, o economista-chefe do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, vê espaço para flexibilização adicional, provavelmente entre 0,50 pp e 0,75 pp, mas acredita que o BC não validou, neste momento, “caminhos de flexibilização mais agressivos previstos por alguns participantes do mercado com, por exemplo, uma taxa Selic terminal igual ou inferior a 4%.”
Ou seja, o Copom sinaliza outro corte de 0,50 pp na reunião de dezembro e não fecha completamente a porta para outra redução na reunião de fevereiro, potencialmente de 0,25 pp, após uma avaliação cuidadosa, pois a recuperação do ciclo econômico parece estar se consolidando, diz Ramos.