Por Josue Leonel
O Banco Central não está poupando esforços para serenar os ânimos do mercado de câmbio. Desde sexta-feira, quando o BC inaugurou a nova estratégia de intervenções mais pesadas e não previamente programadas, os leilões já totalizam US$ 12,75 bi em swaps cambiais, instrumento que representa a venda de dólar futuro, sem impacto nas reservas cambiais.
Se o BC mantiver este ritmo, a semana deve fechar com um recorde de venda de swaps. A maior ação do BC até agora foi a da semana de 17 a 21 junho de 2013, com cerca de US$ 9,5 bilhões – já houve intervenção de volume maior, mas com swap reverso em 2016, cujo efeito é a compra de dólar.
O BC já sinalizou intervenções ao menos até a próxima sexta-feira, mas analistas consideram que os leilões poderão prosseguir na próxima semana à medida em que as incertezas eleitorais e a alta dos juros externos geram demanda por proteção. Ainda que eventualmente as atuações agressivas possam atrair críticas, o fato é que o BC também poderá ser questionado se vender menos swaps do que foi sinalizado.
“A questão é quão forte o BC vem. Se o mercado demandar, o BC vai ter de vender mais”, diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos. Além da alta dos juros externos, que pode ampliar as pressões sobre as moedas emergentes dependendo da sinalização do Federal Reserve, também o receio de eleição de um presidente populista pesa no ânimo dos investidores. “O cenário interno está muito desafiador, não sabemos o que vai ocorrer com as pesquisas.”
Para Nathan Blanche, sócio-diretor da Tendências Consultoria, a autoridade monetária deve manter também a estratégia, iniciada nesta semana, de realizar leilões não programados. “BC não pode dar previsibilidade, que só arma o mercado contra o próprio BC”, diz. Ele considera o quadro eleitoral e fiscal como preocupante, mas não vê o país em uma crise cambial. A demanda por dólar agora seria para zeragem de contratos, e não especulativa, acredita.
Danny Fang, estrategista do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria, não vê o mercado ”totalmente convencido” de que o BC manterá o câmbio sob controle. Ele lembra que o dólar não caiu nas duas últimas sessões, apesar das pesadas intervenções do BC e, entre 2013 e 2014, os leilões de swap desaceleraram a alta do dólar, mas sem mudar a direção.
A continuidade das ações do BC no câmbio e do Tesouro para aliviar a pressão nos juros futuros também foi sinalizada pelo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia. A volatilidade do mercado das últimas duas semanas levou os preços a não refletirem os fundamentos da economia e neste momento é fundamental a atuação conjunta do BC e da Fazenda, segundo o ministro. “Fizemos isso e vamos continuar a fazer sempre que necessário”, disse em evento da Anbima em São Paulo.
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