Por Josue Leonel com a colaboração de Felipe Saturnino.
A ata do Copom divulgada nesta terça-feira busca desvincular duas variáveis-chave da economia, o câmbio e os juros, ao afirmar que o Banco Central não reage “mecanicamente” aos riscos do cenário externo, que impulsionaram a dólar a mais de R$ 3,70 na última semana. Para analistas, o BC busca aliviar o estresse do mercado ao mostrar que a Selic não necessariamente acompanhará a alta do dólar. Enquanto o quadro externo e as eleições seguirem incertos, contudo, o efeito dessas ações do BC deve se limitar ao curto prazo.
Apesar de parte do mercado, mesmo surpreendida, ter considerado tecnicamente correta a parada nos cortes da Selic, não houve alívio imediato nos juros futuros, como se deveria esperar em casos de decisão conservadora do BC. As taxas longas subiram fortemente e a curva não diminuiu a inclinação após o Copom. A taxa para janeiro de 2027, que estava em 10,37% antes do Copom, disparou para 10,90% na sexta-feira, antes de o BC triplicar a oferta de swaps ao mercado. Nesta terça, a taxa acompanha o recuo do dólar, mas ainda se sustenta em nível alto, em 10,78%.
Parte do mercado considera que, para reduzir o estresse que permanece na curva de juros, o Tesouro poderá ter de atuar conjuntamente com o BC, recomprando títulos. “O Tesouro podia ajudar fazendo leilão para dar liquidez”, diz Luiz Eduardo Portella, sócio e gestor da Modal Asset, integrante da minoria de profissionais de mercado que previu a possibilidade de o BC manter a Selic em 6,5% na semana passada. Para ele, o anúncio do BC, no dia 11, de intervenção no câmbio por meio de swaps, já tinha sido um sinal de que o juro não seria cortado.
O comunicado do BC da semana passada, triplicando a oferta de swaps, já foi uma tentativa, reforçada nesta terça-feira pela ata do Copom, de “segurar a onda” do pessimismo do mercado, diz Vladimir Caramaschi, estrategista do CA Indosuez. A ata reforçou o recado ao mostrar que as projeções de inflação estão confortáveis. O analista avalia, contudo, que a ação tranquilizadora do BC é limitada a 2018, pois num prazo maior o rumo da inflação e dos juros vai depender também das eleições, além do desenrolar do cenário externo. Por isso, as taxas mais longas de juros resistem a um maior alívio.
Quando o BC diz que a política monetária e o cenário externo não estão relacionados, sua intenção é de manter as opções de políticas flexíveis no futuro, dado um ambiente externo ainda potencialmente fluido, diz Mike Moran, economista-chefe para Américas do Standard Chartered. “Um dólar mais estável nos próximos meses poderia permitir que ele mantivesse as taxas inalteradas e avaliasse possíveis riscos indiretos para a inflação.”
Embora a alta dos juros futuros represente uma precificação de aumento da Selic, a inclinação da curva não necessariamente significa que o investidor esteja prevendo uma elevação, diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos. O mercado está com uma precificação de risco “muito alta” na curva de DI, mas a mensagem do BC é de que não há razão para pânico com a inflação e nem de alta dos juros no curto e médio prazo, segundo a economista. Para ela, a pressão da curva está mais associada ao sentimento mais negativo dos mercados globais.
Embora no Brasil a alta do dólar sempre traga receios de repasse dos preços internacionais de produtos como o petróleo para a inflação, esse impacto não é linear e só deve preocupar o BC se for generalizado. Num cenário de atividade fraca, como o atual, o repasse tende a ser limitado. “Apesar de falar que vai avaliar o repasse cambial, o BC também reforça que, num contexto de inflação ancorada e com a economia ociosa, ele não está muito preocupado com o pass-through”, diz Alessandra Ribeiro, analista da Tendências Consultoria.
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