Por Editores.
Um novo recruta influente entrou para o coro dos céticos em relação ao bitcoin. O diretor de investimentos do UBS, maior administrador de riquezas do mundo, diz que o bitcoin é arriscado demais para ser adicionado às carteiras do banco — e a avaliação dele é relativamente comedida. Outros chamaram o ativo de “a própria definição de bolha” e até de “fraude”.
Esses termos mais fortes são justificados, especialmente após a última onda selvagem de volatilidade dos preços. Mas a ideia que sustenta o bitcoin — o blockchain, ou a tecnologia de livro-razão distribuído — pode ser revolucionária.
O problema do bitcoin e das demais chamadas moedas digitais é que fazem mau uso dessa tecnologia. Seja como uma nova forma de dinheiro, seja como investimento, o bitcoin tem desvantagens fatais.
Os tokens criados de forma privada — “minerados”, se você preferir — podem ter sucesso limitado como meio de troca e ser usados para executar determinados tipos de transações (cigarros são moeda de troca nas prisões). Mas enquanto reserva de valor confiável, o bitcoin é muito menos útil porque sua volatilidade é extrema demais. O valor das moedas comuns é subscrito pelos governos e estabilizado por bancos centrais que atuam como produtores de monopólio confiáveis. O bitcoin e seus rivais deixam essas funções vitais desocupadas.
Além disso, o bitcoin não tem valor fundamental como ativo — nenhum fluxo de renda futura, nenhuma garantia final de liquidez ou segurança, e (ao contrário do ouro, por exemplo) nenhuma utilidade alternativa. Sua escassez (portanto, parte da base de seu valor) é supostamente garantida pela tecnologia subjacente, mas a maioria de seus compradores simplesmente dão votos de confiança. Caso venham a duvidar dessa garantia, o preço despencará.
Ao mesmo tempo, a utilidade do bitcoin como moeda de troca depende da tolerância oficial — ponto corretamente enfatizado por Mark Haefele, do UBS. Essa tolerância não pode ser dada como certa, especialmente porque o apelo do bitcoin depende muito do anonimato de seus usuários. No momento, sua vantagem comparativa é sua utilidade para fins ilícitos.
Mesmo assim, a tecnologia de livro-razão distribuído que sustenta o bitcoin pode ser bastante poderosa. Ao diminuir a necessidade de intermediários centrais, ela mantém a promessa de processar transações de vários tipos de forma mais eficiente do que hoje. Muitos bancos e bolsas estão avaliando essas aplicações.
A tecnologia do blockchain também poderia ser usada algum dia para produzir novos tipos de dinheiro de bancos centrais. Moedas digitais de bancos centrais poderiam começar a substituir sistemas de pagamentos eletrônicos que as instituições financeiras usam umas com as outras. Uma ideia mais radical é usar uma moeda digital emitida e supervisionada por um banco central no varejo como substituta do dinheiro físico.
No momento, vale a pena estudar todas essas ideias. E continuará valendo a pena persegui-las depois que a bolha do bitcoin estourar.
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