Por Sonali Basak com a colaboração de Sabrina Willmer e Katherine Chiglinsky.
As seguradoras se deram muito mal na crise financeira de 2008. Quase uma década depois, a BlackRock analisou os US$ 5 trilhões em investimentos do setor nos EUA para entender como ficariam se os mercados tivessem outro colapso daqueles.
A resposta: pior ainda.
A maior gestora de recursos do mundo examinou documentos regulatórios de mais de 500 seguradoras e criou modelos das carteiras delas, submetendo-os a uma pressão negativa similar. Os ativos dessas seguradoras – que sustentam suas obrigações em relação aos segurados dos EUA – sofreriam perda média de 11 por cento. Pelos cálculos da BlackRock, seria um recuo bem maior do que as perdas “marcadas a mercado” do segmento no período mais agudo da crise.
O motivo é bem simples. As seguradoras tiveram de compensar as perdas após a crise. Mas como a década seguinte foi de juros baixos, essas instituições precisaram ir além dos títulos de renda fixa mais convencionais. Agora, detêm enormes quantidades de ações, títulos de alto rendimento e uma variedade de ativos alternativos – cesta que pode incluir participações em imóveis, fundos de hedge e companhias privadas, que costumar ser difíceis de vender.
“Essas carteiras estão recebendo mais risco a cada ano”, disse Zach Buchwald, responsável pelo grupo de instituições financeiras da América do Norte da BlackRock. Essas mudanças podem se tornar permanentes, especialmente porque muitas alocações não são facilmente revertidas, ele acrescentou.
A nova diversidade deve proporcionar enorme benefício, de acordo com Buchwald. Afinal, foi a concentração das aplicações em títulos garantidos por hipotecas e em determinadas ações que criou as maiores armadilhas durante a crise, segundo estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
No entanto, até investimentos que parecem diversificados podem sofrer grandes perdas se não houver precaução para que os preços dos ativos não caiam todos ao mesmo tempo.
A BlackRock examinou os ativos das seguradoras porque está oferecendo um serviço de análises e consultoria chamado Aladdin, para essa clientela testar como carteiras complexas se comportariam sob várias condições, de modo que possam ser preparadas para suportar uma catástrofe.
‘Mercado esticado’
O momento escolhido para essa avaliação é interessante. As ações dos EUA são negociadas perto dos maiores preços em registro e o banco central (Federal Reserve) começou a reverter medidas extremas que duraram anos. Em Wall Street, a grande discussão é se haverá uma correção acentuada e, se for o caso, se fissuras nos mercados financeiros podem se abrir em crateras, como ocorreu há uma década.
“A forte ‘busca por rendimento’ permanece visível entre os não bancos”, afirmou o principal conselheiro de economia da Allianz SE, Mohamed El-Erian, em coluna na Bloomberg View publicada neste mês. O grupo dos não bancos, formado sobretudo por seguradoras, partiu para classes de ativos que “incluem o que a maioria considera um mercado esticado para títulos de alto rendimento”.
Algumas seguradoras discutem abertamente a nova postura. A Athene Holding — seguradora que deixa a supervisão de seus investimentos a cargo da Apollo Global Management — aposta em instrumentos de dívida complexos e difíceis de passar para frente. Sua carteira de ativos alternativos, que responde por 5 por cento do total, apresentou retorno anualizado de 12,3 por cento no segundo trimestre.
A Athene está entre as seguradoras que trabalham junto com firmas de private equity, apostando que são capazes de gerar retorno superior ao de seus pares focados em investimentos tradicionais. Mesmo MetLife e Prudential Financial — duas das maiores e mais antigas provedoras de seguro de vida dos EUA — revelaram que, na busca por rendimento, estão investindo em propriedades comerciais e dívidas negociadas no mercado privado.
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