Por David Biller.
O BNDES está recorrendo à tecnologia do blockchain, base do bitcoin, para ampliar sua transparência após uma série de escândalos de corrupção que levantou questionamentos a respeito de suas práticas de financiamento.
O blockchain, inicialmente concebido para driblar controles de bancos centrais, está se popularizando e alguns governos avaliam a possibilidade de usar o registro digital para melhorar a prestação de contas. O BNDES, com sede no Rio de Janeiro, planeja implantar a tecnologia em duas frentes a partir de maio — um projeto rodoviário no estado vizinho do Espírito Santo e o financiamento a uma organização não governamental que trabalha no combate ao desmatamento da Amazônia e no estímulo ao empreendedorismo sustentável.
Ambos são projetos pequenos que servirão de teste para a nova tecnologia, disse Gladstone Moisés, gerente do departamento de TI do banco, que faz parte de um grupo autodeclarado de “nerds” que está desenvolvendo soluções com blockchain.
“Queremos testar as possibilidades e ver o que é viável”, disse em entrevista. “A gente esta até pensando outras possibilidades que envolvam entes públicos. Eventualmetne a gente pode chegar em operações com entes privados.”
O BNDES, um dos maiores bancos estatais de desenvolvimento do mundo, virou alvo de críticas por proporcionar grandes empréstimos a empresas posteriormente envolvidas em um amplo esquema de corrupção descoberto pela Operação Lava Jato. Superfaturamentos e propinas têm sido particularmente frequentes nas obras de infraestrutura pública do Brasil, fortemente dependentes de financiamento do BNDES. O banco emprestou US$ 22 bilhões só em 2017.
Tokens criptográficos
O BNDES vai selecionar um dos projetos rodoviários que irá financiar no Espírito Santo para rastrear o dinheiro que empresta, segundo Moisés e um porta-voz do banco. As empresas contratadas e subcontratadas serão pagas com um token criptográfico posteriormente resgatado com dinheiro pelo banco. Todas as transações com tokens serão registradas no registro do blockchain e disponibilizadas para todos verem.
Na Amazônia, o BNDES usará um software baseado em blockchain projetado pelo banco de desenvolvimento da Alemanha, o KfW, para tornar os empréstimos mais transparentes. O software, chamado TruBudget, tornará os pagamentos rastreáveis e visíveis para todas as partes interessadas, incluindo o BNDES, o KfW, as empresas envolvidas e os ministérios e órgãos de fiscalização relevantes. Será a primeira implantação do TruBudget na América Latina, segundo o banco alemão, que acrescentou que também há planos de utilizá-lo em países africanos.
“Acreditamos que o blockchain pode interessar na questão de melhor a transparência das transações financeiras”, disse Vanessa Rocha, gerente de TI do BNDES e também membro do grupo que está implementando os projetos. “No mundo blockchain, as coisas são muito novas e a gente quer estar junto com essa innovação, ajudando fazer essa inovação acontecer”.
A campanha por transparência do BNDES surge após críticas aos empréstimos obscuros, disse Sérgio Lazzarini, professor da Faculdade de Administração do Insper, em São Paulo, que estuda a instituição. Os órgãos de fiscalização estão monitorando o banco mais ativamente e seus recursos se tornaram mais escassos devido às restrições fiscais do governo.
“O BNDES está, portanto, sendo obrigado a aumentar a eficiência e eficácia das suas atividades”, disse Lazzarini por e-mail.
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