Por Tatiana Freitas e Jeff Wilson.
O clima seco no Brasil, o maior país exportador de soja do mundo, está começando a frustrar as esperanças dos produtores locais de mais uma temporada com condições de cultivo perfeitas.
Embora os produtores planejem aumentar as plantações, as condições climáticas adversas devem reduzir os rendimentos e a produção, que no ano passado atingiu um recorde. O Departamento de Agricultura dos EUA prevê que a safra no Brasil cairá 6,1 por cento, a maior queda em seis anos.
A produção deverá diminuir em um momento em que se projeta que o consumo global da oleaginosa atingirá o maior patamar de todos os tempos. A demanda robusta de importadores, como a China, o maior deles, já está esgotando os estoques nos EUA, o segundo maior exportador. Isso explica porque os preços da soja estão ultrapassando os mercados de outros cultivos. Contratos futuros registraram dois ganhos trimestrais consecutivos, e os investidores apostam que a alta vai continuar.
“As condições meteorológicas foram excepcionais na temporada passada, e é improvável que isso aconteça novamente”, disse Ana Luiza Lodi, analista da INTL FCStone, em entrevista por telefone de Campinas, em São Paulo. “Qualquer sinal de uma redução da oferta, especialmente as previsões climáticas na América do Sul a partir de agora, pode mexer com os preços da soja.”
Aumento de preço
Na Bolsa de Chicago, os contratos futuros de soja subiram 2,4 por cento em setembro, para US$ 9,68 o bushel. O total de posições líquidas compradas pelos especuladores, ou seja, a diferença entre as apostas no aumento de preço e as apostas na queda, mais do que duplicou, para 28.320 contratos futuros e opções na semana encerrada em 26 de setembro, de acordo com os dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA divulgados três dias depois.
Os produtores brasileiros geralmente começam a plantar sua safra entre meados e o final de setembro, enquanto os produtores dos EUA se preparam para colher. A diferença entre os períodos de cultivo significa que os compradores globais tendem a passar para as remessas sul-americanas no primeiro trimestre. Mas, com as ameaças ao rendimento no Brasil, os agricultores podem começar a acumular suprimentos apostando que os preços vão subir.
Em Mato Grosso e no Paraná, os principais estados produtores do Brasil, o plantio teve um início lento em meio ao clima seco. Em um relatório de 29 de setembro, a consultoria AgRural afirmou que a safra do País estava 1,5 por cento semeada, em comparação com 4,8 por cento um ano antes.
Silvesio Oliveira, um produtor de soja no município de Tapurah, em Mato Grosso, arriscou o plantio em 20 de setembro, mas interrompeu logo depois porque o solo estava seco demais. Algumas chuvas permitiram que ele retomasse os esforços no dia 29 de setembro, mas as condições do solo ainda “não são ideais”, disse ele por telefone na última sexta-feira. Ele também receia que as chuvas recentes durem pouco, atrapalhando ainda mais os trabalhos de campo nos 1.400 hectares que ele planeja semear.
“Há uma previsão de duas semanas sem chuvas em Mato Grosso, o que é muito preocupante. As sementes não podem germinar nessas condições”, disse Oliveira. “Nós só plantaremos nos próximos dias se a umidade do solo for suficiente para a germinação. Precisamos ter muito cuidado ao escolher a hora de plantar.”
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