Brasil: Queda do real obriga Wall Street a brincar de pega-pega

Por Filipe Pacheco e Paula Sambo.

A corrida para venda da moeda brasileira está se tornando tão aguda que os estrategistas não conseguem acompanhar.

Mesmo após cortarem suas projeções em 20 por cento neste ano, maior REDUCAO registradA entre as principais moedas, as estimativas continuam abaixo do nível de negociação atual do real. Os analistas do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria estão revisando suas projeções pela terceira vez em menos de seis semanas após o declínio do real para o nível mais baixo em 12 anos na quinta-feira. Nove bancos, incluindo o Credit Suisse Group AG e o Société Générale SA, já reduziram suas projeções neste mês depois que a queda tornou as posições anteriores obsoletas.

“É incrível ver como as coisas estão se deteriorando a um ritmo tão assustadoramente rápido”, disse Enestor dos Santos, economista do BBVA, de Madri. “Tem sido difícil cravar uma projeção”.

A modificação das projeções ressalta o desafio de medir a perspectiva para o real. A queda de 9,3 por cento nos últimos 30 dias, a maior entre as principais moedas, ocorre em um momento em que uma crise política crescente mina o esforço da presidente Dilma Rousseff para colocar no eixo uma economia que caminha para sua pior contração em 25 anos. Um número crescente de parlamentares do maior partido do Brasil está levantando a possibilidade de impeachment em um país que se vê envolvido em um escândalo de CORRUPCAO sem precedente e que teve sua nota rebaixada pelo Moody’s Investors Service na última terça-feira.

O real caía 0,2 por cento às 12:36 desta quarta-feira em São Paulo, para R$ 3,4809 por dólar. A MOEDA, que está em baixa de 24 por cento em 2015, terminará o ano a R$ 3,37 por dólar, segundo a mediana das estimativas de uma pesquisa da Bloomberg.

Corte da Moody’s

A Moody’s Investors Service rebaixou o rating do Brasil em um nível, para Baa3, à beira do grau especulativo, no segundo corte realizado com Dilma na presidência.

Dois terços dos brasileiros acham que o Congresso deveria abrir um processo de impeachment, segundo uma pesquisa realizada nos dias 4 e 5 de agosto pelo Datafolha, que também coloca o índice de aprovação da presidente em um nível recorde de baixa, 8 por cento.

“A situação é séria e as pessoas temem que ela [Dilma] esteja perdendo o comando”, disse Marc Chandler, chefe global de estratégia cambial da Brown Brothers Harriman Co. em Nova York.

Chandler, que disse que só altera as projeções do banco trimestralmente, está trabalhando com uma estimativa informal para o real, de R$ 3,80 por dólar até o final do ano. A cotação é 17 por cento mais fraca que sua projeção do final de junho.

Em uma nota a clientes, na terça-feira, Kamakshya Trivedi e Alberto Ramos, do Goldman Sachs Group Inc., disseram que o real cairá para R$ 4 por dólar até o final do ano. O valor contrasta com a projeção anterior, de R$ 3,55.

‘Crises políticas’

O BBVA revisou sua projeção oficial pela última vez em 29 de julho, reduzindo-a de R$ 3,21 para R$ 3,34 por dólar. Santos, do BBVA, não revelou quando o banco anunciaria sua nova projeção.

Contudo, o economista-chefe do Santander Brasil SA, Mauricio Molan, disse que está mantendo sua posição para o real a R$ 3,20 por dólar no final do ano, o que implicaria uma recuperação de 9 por cento em relação aos níveis atuais. O banco foi o MELHOR analista da moeda brasileira em 2014, segundo os rankings compilados pela Bloomberg.

“Nós ainda vemos espaço para uma melhora no cenário político”, disse ele, de São Paulo. “É por isso que não mudamos nossa projeção. As crises políticas sempre têm um final”.

Lisa Alexandersson, analista de mercados emergentes do Nordea Bank em Copenhague, não está tão otimista. Seu banco revisou a projeção para o valor do real no final do ano na última terça-feira, de R$ 3,20 para R$ 3,65 por dólar. A nova projeção presume que a moeda cairá mais 4,2 por cento a partir do nível atual.

“O real deverá continuar sofrendo com a volatilidade alta nos próximos meses”, disse ela.

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