Por Robert Hutton.
Cada vez mais eleitores britânicos acham que o Brexit está sendo malconduzido. Mas isso não significa que eles estejam mudando de ideia em relação a sair da União Europeia — apenas em relação ao governo conservador da primeira-ministra Theresa May.
Um relatório do Centro Nacional de Pesquisas Sociais do Reino Unido, publicado na quarta-feira, concluiu que 52 por cento das pessoas acham que o país terá um acordo ruim, em comparação com 37 por cento em fevereiro, um mês antes de May iniciar os procedimentos do divórcio.
Mesmo antes do desconcertante colapso desta semana, apenas um em cada cinco britânicos disse que o governo estava lidando bem com as negociações. Entre os que apoiam o Brexit, 61 por cento acham que May vem conduzindo mal as negociações. A pesquisa com 2.200 pessoas foi concluída em outubro, antes da notícia de que May aumentou a quantidade de dinheiro que estaria disposta a pagar para sair e também antes da recente guinada drástica que deixou May à mercê de um aliado da Irlanda do Norte.
As conclusões revelam a falta de conexão entre como a população se sente em relação a um processo que ela mesma desencadeou com o referendo de 2016 e as realidades políticas de um governo frágil, dividido e paralisado em negociações cada vez mais técnicas.
Boa ideia
A pesquisa encontrou pouca mudança na atitude das pessoas em relação ao Brexit em si. De acordo com John Curtice, professor de política da Universidade de Strathclyde, que conduziu a pesquisa, isso sugere que, em vez de lamentarem seu voto, os defensores do Brexit estão passando a considerar que a saída é uma boa ideia mal implementada, algo que poderia ajudar o Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn, da oposição.
Enquanto os britânicos se perguntam o que está acontecendo — e talvez até por que a saída tenha que ser tão complicada —, a UE deu a May prazo até o final da semana para oferecer uma solução para um problema espinhoso: como evitar uma fronteira fortemente controlada na Irlanda depois que a Irlanda do Norte sair do bloco junto com o restante do Reino Unido. O Reino Unido precisa dar uma resposta que satisfaça todos os lados para que as negociações sobre o comércio comecem.
É claro que May será responsabilizada por qualquer fracasso. Ela iniciou o processo para que o Reino Unido saia em março de 2019 e acreditava que convenceria os líderes da UE, em uma cúpula que será realizada na próxima semana, a permitir que as discussões sobre o comércio comecem e que conseguiria um período de transição para que as empresas tenham tempo de se adaptar.
“Uma parte do grupo que é contra a separação acha que, à medida que as pessoas virem o desenrolar do processo do Brexit, elas chegarão à conclusão de que era uma ideia idiota”, disse Curtice. “Em vez disso, a seu modo de ver, elas parecem culpar os políticos pelos resultados insatisfatórios.”
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