Por Sarah Ponczek, Elena Popina e Vildana Hajric.
Ele tem sido ridicularizado e considerado um castelo de cartas, um presente para os mais ricos entre os ricos, um experimento exagerado em política monetária.
Agora, um bull market que durante 10 anos confundiu e castigou seus detratores – superando todos os anteriores – está no leito de morte. E os inimigos e os admiradores estão chegando para dar a extrema-unção.
A queda foi rápida, um espasmo de vendas quase ininterruptas que provocaram uma queda de 19,8 por cento no S&P 500 no espaço de três meses. O Dow Jones Industrial Average despencou 5.036 pontos desde que atingiu um recorde e está prestes a encerrar o pior mês de dezembro desde 1931. Para os homens e mulheres que vendiam ações e conselhos de investimento enquanto o rali avançava, o Natal foi um momento de nostalgia.
“Foi uma corrida extraordinariamente longa”, disse John Carey, diretor administrativo e gerente de carteira da Amundi Pioneer Asset Management, em entrevista por telefone. “No geral, foi um mercado muito forte até alguns meses atrás. Os últimos 10 anos foram um período muito bom para a gestão de dinheiro.”
Dilema moral
Mas não é que isso — necessariamente — tenha acabado. Ainda faltam 7 pontos para o S&P 500 completar a queda para um bear market. Os futuros do índice chegaram a cair 1,1 por cento, mas depois se recuperaram e eram negociados com poucas mudanças às 6h56 desta quarta-feira, horário de Londres.
O bull market era odiado e para muitos o rali representava um dilema moral, especialmente nos primeiros anos, quando as ações serviam como uma espécie de referendo diário sobre as medidas tomadas pelo Federal Reserve para acabar com a crise financeira. Nesse papel, os mercados em alta se tornaram um alvo para aqueles que os viam como um programa de caridade para as pessoas que colocaram a economia em baixa, enquanto no outro extremo do espectro, críticos acusavam Ben Bernanke, do Fed, de arquitetar ganhos para esconder feridas econômicas que nunca foram curadas.
“O mercado surpreendeu a todos quando chegou ao fundo do poço e a rapidez com que saiu de lá”, disse Chris Zaccarelli, diretor de investimentos da Independent Advisor Alliance. “O problema de interpretar o mercado de ações como uma maneira de dizer que a crise financeira acabou é que ele é apenas uma peça do quebra-cabeça”, disse ele. “Em termos de recuperação econômica, tem sido muito lento”.
Agora, as ações estão despencando à medida que o estímulo montado por Bernanke está sendo retirado pelo novo presidente do Fed, Jerome Powell. Inevitavelmente, isso suscita o debate sobre se a crise financeira alguma vez acabou.
“O motivo pelo qual eu diria que ainda existe crise é o balanço do Fed”, disse Zaccarelli. “Este ano houve o impacto do ajuste quantitativo. O fato de o Fed continuar excedendo seu balanço é um vestígio de que a crise ainda existe. Os investidores continuam muito assustados com o que aconteceu em 2007 e 2008 – dá para perceber isso na ansiedade dos investidores.”
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