Por Mario Sergio Lima e Erik Schatzker.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o Brasil deve retomar a austeridade fiscal após os gastos recordes com a pandemia do coronavírus deste ano, ou corre o risco de ser punido pelo mercado financeiro.
As medidas emergenciais adotadas para o combate à crise devem ser encerradas até o final do ano e os congressistas sinalizaram que não serão estendidas, disse Campos Neto, 51, na quarta-feira no durante o Fórum Bloomberg Emerging + Frontier. Segundo ele, a história mostra que o crescimento impulsionado pelos gastos públicos não funcionou no Brasil.
“Tivemos um desvio”, disse ele. “Mas agora precisamos entender que precisamos voltar ao plano original.”
Sob o comando de Campos Neto, o Banco Central cortou a taxa de juro para um nível recorde, liberou bilhões em compulsórios e adotou medidas para estimular o crédito durante a pandemia. Além isso, o governo gastou bilhões de reais em medidas para impulsionar a economia, incluindo o pagamento do auxílio emergencial e ajuda à manutenção de empregos que estão reduzindo a pobreza.
Desentendimentos entre o presidente Jair Bolsonaro e ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre como financiar os gastos sociais no próximo ano geraram temores no mercado de que a âncora fiscal do teto de gastos possa estar em perigo.
As tensões no mercado fizeram o dólar disparar para perto de R$ 6,00 em maio e depois novamente para R$ 5,5 no mês passado. O BC interveio em ambas as ocasiões, vendendo dólares das reservas internacionais.
Campos Neto disse que, embora o BC não tenha como meta um patamar específico para a moeda, está preparado para “intervir ainda mais fortemente” se for necessário eliminar o que descreveu como “descontinuidade de mercado”.
Embora a volatilidade da moeda esteja “um pouco maior do que deveria”, acrescentou, ela deve se estabilizar depois que o Congresso aprovar projetos que indicam seriedade sobre a disciplina fiscal.
Em termos de política, ele disse que pretende manter o rumo, mantendo “o princípio da separação, em que a política monetária é para taxa de juros e o câmbio é flutuante, e a estabilidade financeira está relacionada às medidas macroprudenciais”.
Recuperação mais rápida
Falando um dia depois do anúncio da queda de 9,7% do PIB do segundo trimestre, Campos Neto vê evidências de que o terceiro trimestre será positivo. Segundo ele, o PIB encolherá cerca de 5% neste ano, menos do que a previsão do próprio Banco Central de queda de 6,4%.
Para 2021, ele estima que a economia cresça “um pouco mais de 4%”, o que é mais do que a expansão de 3,5% prevista atualmente pelos economistas.
Mesmo assim, a economia do Brasil pode desacelerar, advertiu Campos Neto, se houver uma segunda onda do coronavírus ou se os planos de austeridade ficarem aquém das expectativas do mercado. Tudo depende de “fatores externos e internos – a forma como os agentes econômicos veem nosso programa, a credibilidade que podemos gerar e a forma como essas variáveis interagem”.