Por Vinícius Andrade.
Um dos fundos de ações com maior captação líquida no ano passado aposta em algumas ações que foram deixadas para trás no recente rali da bolsa brasileira.
Assim como a maior parte dos investidores locais, a Moat Capital, que tem cerca de R$ 5,3 bilhões sob gestão, está confiante que o crescimento econômico deve acelerar em 2020, enquanto o governo busca avançar na agenda de reformas. E algumas das principais posições da gestora incluem papeis mais sensíveis à recuperação da atividade. Outras, no entanto, estão um pouco mais longe do consenso, como Cielo e Oi.
“Estamos otimistas com bolsa e o mercado começa a reconhecer esse crescimento mais robusto. Mas isso não quer dizer que vamos comprar só varejo”, disse o sócio e gestor da Moat Capital Luiz Aranha. “Buscamos olhar o que o mercado precifica em determinada ação e ver se isso é razoável. Esse é o nosso DNA”, disse Aranha, em entrevista em São Paulo.
Esse é um dos pilares que sustentam a tese de investimento em Cielo, que acumula queda de 74% ao longo dos últimos 24 meses. A empresa tem sacrificado os lucros no curto prazo para defender participação de mercado, em meio à forte competição no setor de pagamentos. “Entendemos que a ação vale mais do que está sendo negociada e, em eventual momento, o lucro estabiliza e começa a crescer.”
Para a Oi, que registrou um prejuízo líquido de R$ 5,7 bilhões no terceiro trimestre e ainda tenta se recuperar de uma reestruturação da dívida de US$ 19 bilhões, Aranha cita o foco da empresa na expansão da rede de fibra óptica.
“Vemos valor nos ativos da empresa, com capacidade de gerar caixa muito grande”, disse Aranha. “Mas o mercado está olhando só o curto prazo, em que a companhia está queimando caixa.”
O Moat Capital FIA, um dos fundos de ações com maior volume de dinheiro novo no ano passado, encerrou 2019 com captação líquida de R$ 2,6 bilhões, de acordo com dados compilados pela CVM. Isso representa mais de 3% da captação total de cerca de R$ 86 bilhões dos fundos de ações brasileiros no ano passado — a mais forte desde ao menos 2006, de acordo com a série histórica da Anbima.
O fundo foi criado no segundo semestre de 2014, quando o Brasil caminhava para a maior recessão de sua história em meio a uma turbulência política. Naquele ano, os FIAs tiveram uma saída líquida de cerca de R$ 14 bilhões.
“Montamos no pior momento do mercado”, disse Aranha. “Mas era o tempo necessário para que a empresa amadurecesse e tivesse track record, para termos a captação que tivemos em 2019”, disse. Depois, Cassio Bruno e Marcelo Romeiro ingressaram como sócios.
A performance do fundo ao longo dos últimos cinco anos supera a de cerca de 98% de seus pares, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Entre as varejistas brasileiras, a Moat Capital tem uma visão construtiva para B2W e sua controladora Lojas Americanas. Outras posições incluem Petrobras, Banco do Brasil, JBS e Gerdau.
Recentemente, o fundo voltou a ter uma posição em Itaú Unibanco. É uma aposta que também conta com a sua própria dose de controvérsia: o MSCI Brazil Financials acumula queda de cerca de 5,6% em 2020, em meio à ameaça das fintechs e à agenda do Banco Central para estimular a competição no setor.
“Entendemos que a competição está muito mais na área de serviços, não na área de crédito”, disse Aranha. “Pode não ser o setor mais sexy, mas vemos uma assimetria muito boa.”