A dívida local da Argentina oferece aos investidores mais valor do que os títulos soberanos denominados em dólar, disse Walter Stoeppelwerth, diretor de investimentos da Balanz Capital, com US$ 150 milhões em ativos nos mercados emergentes. Balanz tirou o pé do Brasil recentemente, à espera de sinais de que a inflação está diminuindo e a clareza sobre quem vai lidar com a política econômica do país, disse Aires Stoeppelwert, em entrevista concedida por telefone em Buenos Aires a Andre Soliani do Bloomberg Brief, em 27 de abril.
P: O que esperar da Argentina?
R: O mercado do peso vai se expandir de forma exponencial ao longo dos próximos três a cinco anos. O verdadeiro condutor para o mercado local em peso para atrair investidores estrangeiros vai vir da credibilidade no programa de estabilidade monetária e um programa de desinflação que está em andamento.
P: Você possui dívida em peso?
R: Sim, eu tenho. O mercado inteiro está abraçando a extremidade curta da curva. A Argentina provavelmente vai começar a afrouxar a política monetária em algum momento nas próximas três a seis semanas. Então o que você tem que fazer é subir na ponta mais longa da curva e comprar o papel de 252 dias.
P: Que outros ativos você gosta?
R: Os títulos vinculados à taxa Badlar. Nós gostamos da Bonar 2018 e 2020, oferecendo spread sobre Badlar de cerca de 4,5%. A velocidade com que a inflação vai cair vai levá-lo a alguns ganhos de capital. Nós também não acreditamos que a moeda vai se mover muito entre agora e julho/agosto.
P: Por que?
R: Todo mundo no setor privado na Argentina entrou em desvalorização. Provavelmente foi a desvalorização mais anunciada na história da América Latina. Não há demanda real por dólares agora.
P: O que muda em agosto?
R: A maior parte das liquidações de soja e complexos de grãos ocorre entre hoje e agosto. Em segundo lugar, o déficit fiscal na Argentina sempre atrasou. Eles não foram obrigados a imprimir muito dinheiro ainda para pagar o déficit. Mas, no segundo semestre, você verá eles imprimindo dinheiro.
P: Qual a sua opinião sobre a inflação?
R: Existe um compromisso de desinflação estrutural acontecendo. As taxas de juros hoje estão em 38%, a inflação em uma base de arrasto é pouco acima de 34%. Achamos que a inflação em uma média de três meses poderia cair para 20 a 24% no quarto trimestre. No próximo ano pode cair para cerca de 15, 20%.
P: Qual é a sua opinião sobre os títulos soberanos?
R: Uma compressão de rendimento é possível, mas é totalmente dependente do progresso na frente fiscal. Investidores de mercados emergentes não vão comprar títulos em 6% em 10 anos se o governo ainda tem um déficit de cerca de 5% do PIB. Ainda há valor na ponta mais longa da curva. Mas eu não acho que haja qualquer valor na extremidade curta.
P: A Argentina irá entrar em default novamente?
R: Você nunca pode dizer nunca. Se eles acreditam que podem passar perto e não reduzir o déficit fiscal mais rápido do que programado, eles provavelmente terão algumas graves colisões de velocidade em algum momento dos próximos anos.
P: Existe um risco de agitação social?
R: A classe média e a população de baixa renda não estão felizes. Se não começarem a criar vagas de trabalho e trabalhar na redução da inflação, os antigos peronistas vão voltar.
P: Qual é a sua visão do Brasil?
R: Eu não acho que o Michel Temer liderando o governo será a bala de prata para consertar as coisas. A única maneira de quebrar o ciclo é convocando eleições. A reputação de Temer está longe de ser imaculada.
P: Como o Brasil pode ser corrigido?
R: O problema do Brasil é o tamanho da dívida bruta, e as taxas de juros de 14%. O Brasil precisa que a inflação caia, por isso as taxas de juros podem vir para baixo, de modo que as despesas de juros diminuíam, assim o [déficit] fiscal abaixa. E eu acho que vai acontecer.
P: Como você está negociando no Brasil?
R: Saí recentemente e tenho muito pouca exposição agora. Principalmente porque não estava claro onde a sucessão política estava indo. Neste momento estamos em uma postura de esperar para ver. Agora as ações apontam para baixo.
P: E sobre renda fixa?
R: Eu não acho que exista muito valor na dívida em dólares. Se eu estivesse indo comprar algo, seria os NTNBs de longo prazo. Mas eles aumentaram muito também.
P: O que você está olhando enquanto adota uma estratégia mais cautelosa?
R: Eu estou vendo a inflação em uma base de curto prazo, então qualquer coisa que sai no IPCA ou IGP-M que poderia confirmar que a inflação está recuando. A segunda coisa é que eu quero ter uma ideia melhor de quem está entrando e comandando o show. O fato é que houve um rali muito forte. Já passou a fase de comprar os iShares MSCI Brasil Capped ETF ou os NTNBs. No panorama macro, o dinheiro fácil já foi gerado.