Por Stephen Gandel.
Wall Street se fixou em uma nova razão para o otimismo que embala a valorização das bolsas além de qualquer correção: o crescimento global coordenado.
A retomada da economia mundial beneficiou as ações o ano inteiro. No entanto, desde que o Fundo Monetário Internacional elevou as estimativas de expansão para quase todas as economias desenvolvidas exceto os EUA neste mês, Wall Street passou a se concentrar na ideia de que será criado um mecanismo poderoso que turbinará os mercados. Na semana passada, Tom Lee, da Fundstrat Global Advisors, notoriamente um dos estrategistas mais pessimistas de Wall Street, finalmente subiu a projeção dele para o S&P 500. O motivo? A compressão dos spreads dos títulos de dívida e, sim, o crescimento global acima do esperado.
Até certo ponto, a recuperação coordenada se tornou a explicação dominante para o avanço de 21 por cento do mercado acionário americano no último ano porque a explicação anterior — a antecipação dos efeitos de cortes de impostos — não se sustentava mais. Ninguém sabe se os cortes de impostos serão aprovados. E mesmo se forem, os investidores parecem ter exagerado seus benefícios. O principal estrategista do Goldman Sachs para os EUA calcula que o S&P 500 subirá 250 pontos se o plano de redução de impostos para empresas passar. Só que o S&P 500 já avançou quase 450 pontos desde que Donald Trump foi eleito.
Da mesma forma, investidores de renda variável, especialmente nos EUA, talvez estejam depositando esperanças indevidas na economia global.
Primeiramente, a tal recuperação coordenada não aumentou tanto o nível de crescimento. O FMI elevou a estimativa para a expansão global no ano que vem para 3,7 por cento — mesmo nível que o próprio fundo previa para o período em 2015, antes de as projeções começarem a cair. Em segundo lugar, embora o crescimento global seja bastante importante para o mercado acionário dos EUA — aproximadamente 40 por cento do faturamento das empresas americanas vem do exterior –, parece que o mercado acionário americano se beneficia mais do crescimento global do que outros lugares, ainda que boa parte do crescimento esteja acontecendo longe dali. Por exemplo, o S&P 500 acumula alta de 21 por cento no último ano, mas o índice da bolsa de Xangai subiu somente 12 por cento no período. E a previsão de expansão do PIB na Ásia em 2018 é bem mais forte do que nos EUA: 4,8 por cento versus 2,4 por cento.
De modo geral, as bolsas ao redor do mundo subiram pouco mais de 20 por cento — só um pouco a menos do que nos EUA, mas com perspectivas econômicas muito superiores.
A diferença é mais nítida quando se trata dos múltiplos. A razão entre preço e previsão de lucro no ano que vem para componentes do S&P 500 é próxima de 18. O mesmo P/L está pouco acima de 13 na Ásia e em 14,25 na América Latina. A Índia, que, segundo projeções, será uma das grandes economias com maior crescimento no ano que vem, trabalha com P/L abaixo de 17.
É claro que outros fatores influenciam o P/L, como juros e estabilidade política. Mas o prêmio das bolsas americanas está acima da média e Washington não parece normal quando se fala em estabilidade política. Mais e mais observadores do mercado acham que existe mais valor nas ações fora dos EUA. Até o momento, isso não prejudicou o mercado acionário americano, mas isso pode acontecer se a diferença entre o local onde o crescimento ocorre e onde está embutido nos preços dos ativos continuar se alargando.
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