Por Ann Koh, Serene Cheong e Heesu Lee com a colaboração de Sarah Chen.
Após abastecer o mundo com todo tipo de produto, de lingerie da Victoria’s Secret a aparelhos iPhone, passando por bonecas Barbie, a China agora está produzindo combustível, que está chegando aos postos do mundo inteiro.
O gigante asiático está transformando uma quantidade recorde de petróleo bruto em produtos refinados e está enviando parte deles ao exterior a um ritmo sem precedentes. Por exemplo, combustível de avião foi enviado à Europa no ano passado, gasolina foi para a Nicarágua em maio e outra carga está a caminho do Canal do Panamá agora. Os traders afirmam que mais remessas podem vir a seguir.
O aumento da produção nas processadoras, inclusive nas refinarias privadas conhecidas como “bules de chá”, está inchando a oferta em um momento em que a economia doméstica está esfriando. Ao mesmo tempo, os preços mais elevados nos EUA e a queda das tarifas de frete estão aumentando a rentabilidade de enviar o combustível para o exterior e atrasos em projetos de refino estão fortalecendo a demanda na América Latina. As cargas já contribuíram para uma queda de cerca de 30 por cento nas margens de processamento asiáticas durante os últimos 12 meses e agora também ameaçam a rentabilidade na Europa e no continente americano.
“A China se tornou exportadora de combustível por acidente”, disse John Driscoll, estrategista-chefe da JTD Energy Services, que passou mais de 30 anos negociando petróleo bruto e produtos refinados em Cingapura. “Eles ampliaram excessivamente a capacidade de refino, a demanda doméstica diminuiu e os bules de chá entraram no jogo”.
Refino
A capacidade de refino do país dobrou neste ano na comparação com dez anos atrás, para cerca de 14,5 milhões de barris por dia, e deverá aumentar mais nos próximos anos, de acordo com cálculos feitos pela Bloomberg com base em dados da estatal China National Petroleum Corp (CNPC). O objetivo do aumento era atender à demanda doméstica, mas o crescimento econômico caiu pela metade desde 2007, para menos de 7 por cento, o que significa que o país enfrentará uma abundância diária de combustível de aproximadamente 700.000 barris daqui a quatro anos, mostram dados da CNPC.
As exportações chinesas de gasolina e diesel aumentaram pelo menos 30 por cento em 2016 após uma quantidade de remessas sem precedentes no ano passado, mostram dados alfandegários. O governo também começou a permitir que refinarias independentes importassem petróleo bruto e exportassem combustível.
“O combustível será enviado para onde houver demanda, inclusive para lugares para onde normalmente não são mandados”, disse Peter Lee, analista em Cingapura da BMI Research, unidade da Fitch Group.
A América Latina é vista como um destino primordial. O consumo de combustível da região deve aumentar para 10,263 milhões de barris por dia em 2025, superando a projeção de capacidade diária de refino de 9,939 milhões de barris, disse a BMI Research em relatório de 22 de maio, acrescentando que contratempos orçamentários e regulatórios causaram atrasos e cancelamentos, especialmente no Brasil.
“A abundância de combustível aumentou na China e, como resultado, exportadores estão buscando mercados adicionais muito mais agressivamente”, disse Victor Shum, vice-presidente da empresa de consultoria IHS, com sede em Englewood, Colorado, nos EUA. “Haverá mais concorrência, sem dúvida alguma”.
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