Por Pablo Gonzalez e R.T. Watson.
A Samarco Mineração, que não opera desde o colapso da barragem de Mariana em 2015, tentará reiniciar as negociações com os credores depois que uma de suas empresas controladoras, a Vale, sofreu um desastre ainda pior em sua própria área, em Brumadinho, segundo pessoas envolvidas nas conversas.
O acidente do mês passado em Minas Gerais, que matou mais de 140 pessoas, virou as perspectivas para a Samarco, que é de propriedade conjunta da Vale e da BHP. Samarco e os detentores de bônus vinham discutindo desde o final de novembro, mas qualquer progresso feito nessas conversas será zerado quando as negociações recomeçarem, de acordo com as pessoas, que pediram para não serem identificadas porque não estão autorizadas a discutir o assunto.
Com a perspectiva financeira da Vale prejudicada pela última catástrofe, os credores podem esperar que a Samarco conduza uma barganha mais dura nas conversações sobre os US$ 2,2 bilhões em bonds inadimplentes e US$ 3,8 bilhões em empréstimos e outras obrigações. A joint venture e as entidades a quem devia dinheiro chegaram a um entendimento preliminar de que uma troca de dívida era a melhor maneira de colocar a empresa de novo em pé, mas um acordo final não foi alcançado, disseram as pessoas.
Um representante do Grupo BHP preferiu não comentar, assim como um funcionário da Samarco. Um representante da Vale não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Depois que as negociações começaram formalmente em 27 de novembro, as partes, que trocaram ofertas escritas e contra-propostas, ainda estavam longe de chegar a um acordo com o fim do prazo de janeiro, disseram as pessoas.
Um ponto crítico era como tratar os recursos que a Vale e a BHP injetaram na Samarco após o vazamento da barragem de novembro de 2015, que matou 19 pessoas e poluiu rios, no que foi considerado o pior desastre ambiental do Brasil. A disputa envolve cerca de US$ 908 milhões em debêntures de acionistas e US$ 892 milhões em dinheiro que os acionistas forneceram para pagar pela limpeza e remediação de desastres, disseram as pessoas.
Os credores rejeitaram a oferta da Samarco de tratar as injeções de recursos como dívida sênior ou pari-passu.
Em 24 de janeiro, as partes concordaram verbalmente com uma prorrogação de 15 dias, a fim de dar mais tempo para a conclusão das complicadas negociações, disseram as pessoas. Tudo mudou, no entanto, quando no dia seguinte a segunda barragem pertencente à Vale rompeu. A companhia, assessorada pelo JPMorgan Chase, cancelou as negociações. O JPMorgan preferiu não comentar.
O preço dos títulos de US$ 1 bilhão da Samarco, com vencimento em 2022, despencou mais de 30% após o acidente, para cerca de 52 centavos de dólar. Desde então, recuperou-se para 61 centavos embalado por otimismo de que negociações bem-sucedidas permitirão que a empresa retome suas operações.
O preço atual do título é aproximadamente equivalente ao valor líquido presente que os credores esperam obter quando as negociações recomeçarem, disse uma pessoa próxima aos credores. Esse grupo inclui fundos de hedge de distressed-debt, como o Solus Recovery Fund, o York Total Return e o Silver Point Capital Fund, que compraram ações detidas por bancos japoneses, segundo pessoas a par das negociações. Representantes dos fundos não responderam imediatamente aos telefonemas e e-mails solicitando comentários.
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