Por Cristiane Lucchesi.
O Deutsche Bank AG, banco alemão que cortou empregos de banco de investimento no Brasil no ano passado, está transferindo áreas de negócios de volta à nação em meio a uma visão otimista da agenda econômica do novo governo.
Depois de cortar os custos no país em 40 porcento no ano passado, o Deutsche Bank está transferindo o negócio de trading de renda fixa e câmbio de Nova York de volta para São Paulo, disse Maitê Leite, presidente para o Brasil, em entrevista. Além disso, dois executivos da área de banco de investimento vão se mudar de Nova York para São Paulo para cobrir clientes, e um diretor será contratado como chefe local de multinacionais na área de global transaction banking, disse Maitê.
Os movimentos não significam que o Deutsche Bank está aumentando o número de funcionários no Brasil. O banco está transferindo de 20 a 30 empregos das áreas de middle e back-office para fora do país, para um centro em Jacksonville, Flórida, nos próximos 18 meses. O banco tem 150 funcionários no Brasil hoje.
“O foco neste ano é na receita, buscar ampliar a escala da operação aqui e a relevância do business localmente e globalmente,” disse Maitê.
O Deutsche Bank saiu da Argentina e do México em 2016 e cortou sua equipe no Brasil pela metade, transferindo os negócios de trading para Nova York, como parte de um plano para eliminar cerca de 26.000 empregos em todo o mundo em dois anos. Na época, o banco também disse que fecharia operações no Chile, Peru e Uruguai.
Maitê vê um “ambiente mais positivo” no Brasil com a eleição de outubro, pois o novo governo, segundo ela, tem uma “agenda pró-business.” A mudança política levou Maitê a buscar “mais recursos para desenvolver o negócio.” Michael Spiegel, chefe global de cash management do Deutsche Bank e chefe regional de global transaction banking para a Alemanha, visitou o Brasil em outubro e também ficou impressionado, disse ela.
A transferência de livros de trading de renda fixa e câmbio para o Brasil, que começou em novembro, exigirá apenas “investimentos marginais”, segundo Maitê, porque toda a infraestrutura permaneceu no país e estava sendo subutilizada. Nenhuma contratação será necessária para esse negócio, porque o banco planeja transferir dois funcionários sediados em São Paulo para ajudar no trading local, disse ela.
Produtos de hedge
“Agora temos a capacidade de oferecer produtos de hedge mais sofisticados e flexíveis para nossos clientes”, disse Ricardo Cunha, diretor gerente responsável pelos negócios de trading de renda fixa e câmbio do Deutsche Bank Brasil. Ele citou opções e hedge de Libor em moeda local como exemplos.
Cunha disse que sua meta para este ano é aumentar a receita em 50 porcento nos negócios pelos quais é responsável, incluindo crédito estruturado e liderança em transações de emissão de títulos de dívida internacionais.
Ele espera que as políticas do novo governo estimulem o crescimento econômico, alimentando a necessidade de as empresas levantarem capital, e estima que a emissão de eurobônus de empresas brasileiras, bancos e governo deverá chegar a US$ 25 bilhões este ano. Isso seria mais do que os US$ 15,8 bilhões do ano passado, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Cunha também prevê um aumento das fusões e aquisições, com empresas internacionais comprando mais companhias no Brasil, o que estimularia a demanda por empréstimos-ponte. Cunha disse que o banco está planejando aumentar sua exposição total ao risco de crédito das empresas brasileiras, mas não quis dar números.
O Deutsche Bank tem R$ 1,6 bilhão de capital no Brasil, que o banco espera seja suficiente para o crescimento planejado para este ano, disse Maitê.
“Tinha uma certa ansiedade à espera da definição de qual seria o time econômico do ministro Paulo Guedes; mas, uma vez que isso ficou claro, o mercado recebe isso de uma forma bastante positiva e o management do banco também,” disse Cunha.
Maitê disse estar tão otimista em relação ao novo governo que não se incomoda nem mesmo com algumas das observações feitas no passado pelo novo presidente, Jair Bolsonaro. Certa vez Bolsonaro disse a uma deputada que ela não merecia ser estuprada porque ele a considerava muito feia, e outra vez comentou: “Eu tenho cinco filhos; foram 4 homens, mas no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”.
“O discurso de Bolsonaro nunca me incomodou, nunca me senti diretamente afetada pelas posições dele”, disse Leite. A experiência de trabalhar em tesouraria e mesa de operações de bancos a expôs a “ambientes muito masculinizados”, disse ela, o que a ajuda hoje a “navegar com tranqüilidade nesse tipo de universo”.
“Minha preocupação não é com a retórica do presidente, mas sim ver o Brasil crescer novamente, criar empregos, melhorar a infraestrutura”, disse ela.
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