Dificuldades da Telefónica no México podem piorar em breve

Por Andrea Navarro e Rodrigo Orihuela.

A Telefónica, gigante espanhola das telecomunicações cuja incursão de 16 anos pelo México foi marcada por guerras de preços e investimentos atrasados, está se preparando para um novo golpe.

O Supremo Tribunal do México deve se pronunciar, ainda neste mês, sobre uma ordem judicial que reverteria uma disposição fundamental da reforma de telecomunicações realizada pelo país em 2013. Uma perda poderia forçar a Telefónica, a AT&T e outras concorrentes menores a pagar mais de US$ 800 milhões em comissõespara a líder do mercado, a América Móvil. Essa poderia ser a gota d’água para a empresa com sede em Madri, que periodicamente avalia abandonar o México durante sua luta de uma década e meia.

Quatro anos depois de o governo do México aprovar a emblemática reforma de telecomunicações, a esperança de que isso ajudaria a Telefónica a ganhar terreno ruiu lentamente. A empresa aumentou sua participação de mercado em cerca de 3 pontos percentuais desde então, para 23 por cento, mas a AT&T realizou o mesmo avanço na metade do tempo. Além disso, a porcentagem de receita que a Telefónica obtém do maior país de língua espanhola do mundo diminuiu para 2,8 por cento em 2016, contra 3,9 por cento dois anos antes, sendo que as vendas europeias compõem uma parcela maior.

O bilionário Carlos Slim encabeça a tentativa de diluir a lei que permitiu que concorrentes de menor porte deixassem de pagar à sua empresa, América Móvil, uma taxa por cada ligação que acabe em sua rede. O Supremo Tribunal do México poderia votar a ordem judicial ainda neste mês, após o recesso do verão boreal.

“Isso é perigoso para todo o país”, disse Miguel Calderón, vice-presidente de regulamentação da Telefónica no México, em uma entrevista por telefone da Cidade do México. “Uma mudança dessa magnitude afetaria todos nós – não só as operadoras, mas também aumentaria os preços para o consumidor, reduziria os investimentos e colocaria a certeza jurídica em dúvida.”

Calderón disse que a América Móvil usará todas as táticas possíveis para conservar a máxima participação possível no mercado. A América Móvil não deu retorno a um pedido de comentário. A empresa afirmou no mês passado que uma decisão judicial a seu favor não prejudicaria os consumidores, porque os preços são determinados pela concorrência.

Especulação

O México tem sido um dos poucos empecilhos no caminho da Telefónica, que disputa acirradamente com a América Móvil a posição de principal provedora de serviços de internet na maior parte dos outros mercados da América Latina, do Brasil ao Chile.

O processo judicial aumentou a especulação entre jornais e investidores locais de que a Telefónica poderia sair do México. Mas abandonar o país pode ser complicado.

O México “é um mercado consolidado com um ambiente muito complicado”, afirmou. Javier Mielgo, analista da Mirabaud & Cie na Espanha. “Sair não seria fácil. Quem vai comprar esse ativo?”

Quando perguntado se a empresa gostaria de abandonar o México, o CEO José María Álvarez-Pallete havia dito que está disposto a analisar todas as opções. Existem oportunidades de “fazer coisas diferentes com distintos atores no México” como parte da tentativa da Telefónica de buscar parcerias através de acordos de compartilhamento de rede, disse ele na apresentação dos resultados do primeiro trimestre da empresa.

“Não respondemos a perguntas hipotéticas”, disse Calderón. Um desfecho desfavorável no tribunal “teria um forte impacto em todo o setor, não apenas na Telefónica”, afirmou.

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