Por Tariq Panja.
Um dia após o Reino Unido acionar o artigo 50, a contagem regressiva de dois anos para sua saída da União Europeia, os líderes políticos foram instados a proteger um de seus produtos de exportação mais populares: o futebol da Premier League e suas fileiras de jogadores importados.
Donos e executivos de clubes, em Londres para uma reunião normal, manifestaram preocupação na quinta-feira em relação às possíveis consequências do Brexit para a cosmopolita competição de futebol, a mais rica e mais assistida do mundo.
Os clubes, munidos de uma renda de TV recorde, desde gigantes como Manchester United e Chelsea até clubes de médio porte como Stoke City e West Ham, conseguiram comprar talentos pelo mundo. Os elencos estão cheios de detentores de passaportes da União Europeia que atualmente têm liberdade para morar e trabalhar no Reino Unido. Não está claro o que acontecerá após a formalização da separação.
“A conclusão é que a Premier League é a maior liga que o mundo já conheceu”, disse David Gold, presidente e coproprietário do West Ham. “Por que sufocá-la? Por que alguém desejaria mudá-la? É uma grande vitrine. A Premier League passa em todo o mundo e está se expandindo cada vez mais.”
Gold sugeriu que o governo do Reino Unido adote medidas especiais para que as equipes possam continuar contratando os melhores atletas. Nos últimos anos o governo levou os líderes da liga a missões comerciais no exterior. Os direitos internacionais e domésticos de TV somam 8 bilhões de libras (US$ 9,98 bilhões), quantia muito superior à alcançada pelas competições rivais.
As negociações da primeira-ministra Theresa May com os líderes da UE afetarão as vidas de milhões de europeus que moram no Reino Unido e os setores bancário, de saúde e de turismo também estão em uma espera tensa por mais clareza.
‘Estou pessimista’
“Estou pessimista em relação à saída”, disse o presidente do Stoke City, Peter Coates. “Nada mudou na minha mente. A esperança é que o futebol encontre uma forma de se cuidar quando isso finalmente acontecer — seja quando for. Isso pode demorar anos.”
Coates disse esperar que o governo conceda isenções de visto aos jogadores da Premier League, possibilitando que tenham tratamento especial devido aos seus altos níveis de habilidade.
“Mas temos que esperar para ver”, disse ele. “Nós não sabemos. E eu posso te dizer que a primeira-ministra não sabe e o sujeito que lidera o Brexit, David Davis, também não sabe.”
A liga teve discussões preliminares com o governo sobre os possíveis efeitos do Brexit. Um porta-voz do Departamento de Cultura, Mídia e Esporte não pôde comentar o assunto imediatamente.
Os clubes já estão sentindo os efeitos da decisão do Reino Unido de encerrar a aliança de décadas com seus vizinhos europeus. A libra caiu em relação ao euro e ao dólar americano, tornando mais caro o recrutamento de jogadores estrangeiros. Alguns desses custos são mitigados pelo fato de a renda de TV internacional ser recebida em dólares.
“O que essa situação está criando é incerteza e dentro de cinco anos todos nós vamos nos lembrar e pensar ‘para que fizemos isso? Estamos pior’”, disse Coates. “E daqui a 10 anos estaremos dizendo a mesma coisa.”
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