Por Rudy Ruitenberg.
Os efeitos do El Niño estão começando a chegar à mesa, com os preços globais dos alimentos alcançando os maiores aumentos em três anos, causando preocupações com o abastecimento de tudo, do leite da Nova Zelândia ao açúcar no Brasil e óleo de palma (azeite de dendê) do Sudeste Asiático.
O índice de 73 preços de alimentos aumentou 3,9 por cento em outubro, chegando a 162 pontos, o maior salto desde julho de 2012, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicado nesta quinta-feira.
O retorno do fenômeno climático El Niño está mudando as condições meteorológicas do mundo, danificando as plantações, com muita chuva em algumas áreas e poucas em outras regiões. O preço do açúcar subiu 17 por cento, mais do que o de qualquer outra mercadoria segundo o relatório da FAO e o maior aumento desde setembro de 2010. Chuvas excessivas no Brasil, o maior produtor do mundo, atrasaram a colheita e reduziram a quantidade de adoçante que pode ser extraído da cana-de-açúcar.
“A questão primordial é o clima”, disse Abdolreza Abbassian, economista sênior da FAO. “Há definitivamente mais potencial para aumentos de preços nos próximos meses”.
O aumento dos preços é uma inversão da tendência do início deste ano, quando o índice FAO estava declinando regularmente para o nível mais baixo dos últimos seis anos em meio a um excesso de oferta mundial de grãos. O indicador permanece abaixo do nível de julho.
O salto no açúcar também foi motivado por informes de produtores sobre danos às plantações pela seca excessiva, inclusive na Índia e na Tailândia, de acordo com o relatório da FAO. Contratos futuros de açúcar não refinado subiram 13 por cento em Nova York no mês passado, somando-se ao crescimento de 20 por cento em setembro.
Os preços dos óleos vegetais aumentaram 6,2 por cento, o maior salto desde 2010, segundo a FAO, principalmente devido ao aumento do preço do óleo de palma motivado pela preocupação de que o clima seco criado pelo El Niño vá prejudicar a produção do próximo ano no Sudeste Asiático. Os custos dos lácteos aumentaram 9,4 por cento, o maior crescimento em dois anos, por medo de que a produção de leite da Nova Zelândia diminua.
“O que está acontecendo na região da Ásia está essencialmente relacionado com o evento El Niño”, disse Daryna Kovalska, analista do Macquarie Group Ltd. em Londres. “Houve secas no sudeste da Ásia, a Austrália agora também está sob pressão da seca. Tudo está ligado ao El Niño”.
Com os recentes aumentos de preços impulsionados principalmente pelo medo e estoques suficientes de muitos produtos agrícolas, após anos de excedentes de produção, os ganhos adicionais poderiam resultar em “uma grande correção” se as preocupações não se materializarem, disse Abbassian.
O aumento de outubro não afeta as perspectivas da FAO para 2015 de uma queda de US$ 261 bilhões no faturamento mundial da importação de alimentos fechando em US$ 1,09 trilhão, o volume mais baixo dos últimos cinco anos, de acordo com o economista.
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