Por Cristiane Lucchesi e Felipe Marques.
A eleição presidencial no Brasil está se tornando uma ameaça cada vez menor aos negócios dos bancos de investimento.
Um aumento nas transações de fusões e aquisições pode compensar o esperado declínio nas emissões de ações, deixando a receita com comissões dos bancos estável em relação ao ano passado, segundo executivos do Bank of America, do JPMorgan Chase & Co. e de outros grandes bancos de investimento.
“Até agora, tudo bem”, disse Hans Lin, responsável pelo banco de investimentos do Bank of America no Brasil, em entrevista em São Paulo. “O mercado de fusões e aquisições é forte porque há esse sentimento geral de que o próximo presidente representará continuidade.”
A probabilidade de um resultado eleitoral mais favorável ao mercado financeiro aumentou no sábado, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a cumprir uma sentença de prisão de 12 anos por corrupção. Lula, que é o favorito nas pesquisas, assusta alguns investidores que acham que ele tentaria rever reformas fiscais que consideram necessárias para manter a recuperação econômica nos trilhos.
O otimismo dos bancos vem mesmo depois que a receita já subiu 77% em 2017 em relação ao ano anterior, para US$ 899 mi, após o país sair de uma recessão de dois anos. Nos primeiros três meses deste ano, as comissões totais da indústria aumentaram 29%, para US$ 247 mi, segundo a empresa de pesquisa Dealogic LLC.
O BofA foi um dos ganhadores, tendo assessorado a Fibria Celulose na maior fusão anunciada no Brasil até o momento este ano: uma aquisição de US$ 14,4 bi pela Suzano. O negócio ajudou a elevar as transações totais de M&A em 33% este ano em relação ao mesmo período do ano anterior, para US$ 20,3 bi, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Taxas dos EUA
“Estamos ocupados este ano com uma série de bons mandatos”, disse Pedro Juliano, responsável pelo banco de investimento no Brasil no JPMorgan. “Muitos clientes estão tentando antecipar emissão de ações para o primeiro semestre do ano e também estão estendendo os vencimentos de suas dívida, tentando aproveitar as baixas taxas de juros nos EUA”.
Juliano disse que grandes fundos internacionais estão interessados em investir capital em setores como infraestrutura, serviços públicos e petróleo e gás.
Um exemplo é o plano da Petrobras de vender sua rede de gasodutos de gás natural no nordeste do Brasil, uma transação que pode chegar a US$ 8 bi. Esse seria o maior desinvestimento da Petrobras até agora, respondendo por mais de um terço da meta de desinvestimento de US$ 21 bi da companhia de energia controlada pelo Estado nos dois anos até 2018.
O financiamento de aquisições também está acelerando em conjunto com o salto nas transações de M&A, disse Juliano, cujo banco foi um dos quatro que forneceu um empréstimo de US$ 9,2 bi para a Suzano para sua compra da Fibria. O Citigroup está financiando uma oferta pública de aquisição pela concessionária Energisa, que está tentando comprar a Eletropaulo por R$ 3,24 bi (US$ 950 mi).
’Boom Maior’
As taxas de juros em queda no Brasil estão atraindo novos investidores para o mercado de capitais, porque eles não podem mais depender apenas de títulos do governo para obter retornos adequados, disse Renato Ejnisman, diretor executivo do Banco Bradesco BBI. “Se um candidato favorável ao mercado for eleito, você poderá ter um boom maior”, disse ele.
O Bradesco foi um dos bancos que trabalhou na oferta pública inicial de US$ 2,61 bi da Pagseguro Digital, maior IPO de uma empresa latino-americana neste ano. O Morgan Stanley e o Goldman Sachs atuaram como líderes na transação.
“Estamos vendo um enorme fluxo de recursos para os mercados emergentes”, disse Rafael Bello Noya, responsável pelo banco de investimento e corporativo do Banco Santander Brasil. “A economia do Brasil melhorou, as empresas estão em melhor forma, mas nós temos eleições e pode haver menos transações de bancos de investimento. O mercado será mais duro e a concorrência, mais acirrada.”
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