Num momento em que os ativos em ETFs ultrapassaram US$ 10 trilhões e superaram a marca de US$ 1 trilhão em entradas anuais, o ETFs in Depth, principal evento da Bloomberg dedicado a essa classe crescente de ativos, reuniu os principais emissores de ETFs, formadores de mercado, especialistas e entusiastas para discutir as mais importantes questões enfrentadas hoje pelo setor.
Na sessão intitulada “ETFs como ferramentas para inovação”, Dave Gedeon, CEO da Bloomberg Index Services Limited, moderou uma discussão com Jay Jacobs (Diretor Executivo e Chefe de ETFs Temáticos e Ativos dos EUA, BlackRock), Will Rhind (GraniteShares) e Mike Venuto (Diretor de Investimentos, Tidal). Juntos, eles explicaram como os ETFs estão desencadeando uma nova onda de soluções inovadoras que capacitam os investidores a aproveitar o potencial desses fundos para gerar retorno de modos totalmente novos.
Que fatores impulsionaram o rápido crescimento dos ETFs e sua diversificação no mercado, e como chegamos ao ponto em que produtos de ETFs complexos e de nicho se tornaram tão usuais?
Um fator-chave para o surgimento de produtos como ETFs alavancados de ações individuais foram as mudanças regulatórias. Conceitualmente viáveis há décadas, elas só se tornaram viáveis após as regras sobre ETFs e derivativos estabelecerem a estrutura legal necessária.
Mudanças culturais desencadeadas pela COVID também desempenharam papel significativo nesse processo, pois a pandemia “gamificou” os investimentos. Muitos indivíduos adotaram uma combinação de estratégias amplas, passivas, que alguns chamam de “VTI and chill” (“investir no VTI e acalmar”), juntamente com alocações menores em investimentos mais especulativos. “As pessoas preferem especular em suas contas de corretagem mais do que no DraftKings”, diz Venuto.
O wrapper de ETF provou ser uma tecnologia revolucionária de várias maneiras: sua estrutura transformadora permite embalar e negociar com eficiência uma ampla gama de ativos. Com o tempo, o escopo de investimentos dentro dos ETFs se expandiu, impulsionado por avanços regulatórios e tecnológicos.
Podemos esperar que esse nível de inovação persista, dado o estado atual do mercado?
À medida que mais indivíduos assumem o controle de suas finanças, essa tendência deve acelerar. A ascensão das plataformas de fintech simplificou o acesso ao mercado, tornando os investimentos mais acessíveis e promovendo, entre os investidores, uma mentalidade mais diversificada. A abordagem “one-size fits all” está obsoleta, já que alguns investidores agora priorizam altos retornos em curtos períodos (por exemplo, 10% em um dia), no lugar de estratégias convencionais com foco no crescimento constante e de longo prazo (por exemplo, 10% em um ano).
Ainda assim, os ETFs principais continuarão a dominar o mercado, já que os investidores dependem deles como bases sólidas para seus portfólios. Ao mesmo tempo, os clientes buscam estratégias complementares para potencializar seus retornos. “É um pouco como molho de pimenta — alguns preferem mais suave, outros já querem algo extremo”, diz Jacobs. Os investidores estão recorrendo a estratégias baseadas em fatores para aproveitar inclinações historicamente recompensadas em busca de desempenho superior, investimentos temáticos para capitalizar em tendências emergentes e gestores ativos de portfólio para gerar alfa. Embora as estratégias inovadoras frequentemente chamem a atenção, elas são vistas como um complemento para os ativos principais, e não como um substituto.
Como estão evoluindo os comportamentos dos investidores, em termos de períodos de retenção e casos de uso, para produtos voltados a altos retornos no curto prazo? Como as preocupações dos clientes são abordadas, considerando-se as controvérsias do passado?
Como acontece com as principais ações dos EUA, a maior atividade de trading vem de investidores institucionais, como empresas de trading proprietário, fundos de hedge e traders algorítmicos. Além do trading de alta frequência, no entanto, investidores individuais apaixonados por trading impulsionam uma parte significativa dessa atividade, discutindo constantemente o assunto em plataformas como o Reddit. “Temos uma família de fundos chamada YieldMax, e há cerca de seis grupos no Facebook com milhares de pessoas falando sobre isso”, diz Venuto.
Os ETFs, especialmente aqueles de Bitcoin, ganharam popularidade à medida que os investidores se tornam mais familiarizados com o modo como os ativos digitais se ajustam aos portfólios por meio dos ETFs. Apesar das preocupações com a volatilidade do mercado, incluindo o impacto de fatores como os tweets de Trump, um fundo que atinge seu objetivo, como oferecer um múltiplo de retornos em relação a uma ação subjacente, provavelmente resistirá a quedas tão eficientemente quanto uma ação como a Nvidia.
A chave para a funcionalidade de um ETF continua sendo a liquidez do seu ativo subjacente. As mudanças regulatórias transformaram os produtos de ações individuais de passivos para ativos. Esses produtos não têm garantia de atender às expectativas de desempenho diárias, o que faz da transparência algo essencial. Como dependem da atividade institucional para a liquidez, tentar forçar a alocação de ativos inadequados em um ETF pode levar ao fracasso, trazendo aos formadores de mercado dificuldades para manter a liquidez.
Considerando a popularidade do momento, especialmente com as criptomoedas e as meme coins em ascensão, para onde irão as oportunidades futuras, à medida que as regulamentações evoluírem?
Embora o cenário dos ETFs de Bitcoin tenha superado os $100 bilhões em ativos no último ano, o setor ainda está nos estágios iniciais. A inovação no espaço cripto vai além da criação de novos produtos. Ela se estende à distribuição, gestão de portfólio e envolvimento de clientes, especialmente tendo em vista a próxima geração de investidores. Apesar de haver alguma exposição ao Bitcoin entre consultores financeiros e instituições, o foco continua sendo impulsionar a adoção tanto do Bitcoin quanto do Ethereum.
O ambiente regulatório está melhorando, com mercados como o NASDAQ mostrando apoio crescente, o que beneficia gestores de ativos menores que trabalham para atender à crescente demanda dos investidores. De acordo com Venuto, “14 dos 20 ETFs de crescimento mais rápido estão relacionados a cripto”, acrescentando que muitos clientes buscam maneiras inovadoras de combinar cripto com ativos tradicionais, como Bitcoin e ouro.
A atratividade dos ETFs reside em sua capacidade de simplificar e agrupar estratégias complexas, como operações alavancadas ou de opções, em um único ticker, fácil de negociar. Essa abordagem sugere que os investidores estão cada vez mais interessados em soluções agrupadas. “O que podemos ver nas mídias sociais é a nossa escala sendo repassada nos pacotes de negociações. Nós apenas as tornamos mais fáceis e eficientes para eles em termos fiscais, no melhor wrapper do mundo”, diz Rhind.
Como um declínio nos retornos de capital de primeira linha impactaria o conjunto geral de oportunidades para novos produtos, dado que o desempenho de ações impulsionou grande parte da inovação nos últimos anos?
Num mercado impulsionado por tendências amplas, ou “rallies impulsionados por beta”, investir pode se tornar descomplicado, com bons resultados provenientes da alocação em produtos que acompanham o beta. No entanto, em mercados mais voláteis, os investidores tendem a se tornar mais estratégicos, frequentemente recorrendo a soluções especializadas para gerar retorno, como estratégias temáticas, buy-write e busca por alfa.”A história mostra que, em períodos recessivos, os recursos tendem a sair dos fundos mútuos, para voltar para os ETFs apenas durante a recuperação dos mercados, à medida que as rupturas impulsionam a inovação”, diz Jacobs. Com fatores como altas avaliações, volatilidade, populações envelhecidas e taxas de juros mais altas provavelmente impactando os retornos dos portfólios, aspectos como criatividade e adaptabilidade serão essenciais para o sucesso no futuro.
A diversificação continua sendo um objetivo crítico. “O foco na diversificação se perdeu na busca por retornos fáceis, como evidenciado em estratégias como ‘VTI and chill’”, diz Rhind. Enquanto isso, a crescente popularidade de estratégias de renda baseadas em opções, como calls cobertas, destaca o aumento da renda de dividendos gerada pelos ETFs. Essas alternativas se tornaram mais atraentes para investidores que, como a geração dos baby boomers, priorizam a renda em vez do crescimento de capital.