Por Cristiane Lucchesi e Jonathan Levin.
As crises política e econômica no Brasil estão criando um mercado aquecido para banqueiros e advogados em busca de trabalho: empresas, incluindo a Rothschild e a G5 Evercore, estão contratando para auxiliar as empresas que passam por dificuldades a reestruturar suas dívidas.
A consultoria butique G5, na qual a Evercore Partners Inc. tem participação de 47 por cento, contratou Ricardo Moura e Marcio Santiago Gonçalves, antigos responsáveis pelo setor de fusões e aquisições do Bank of America Corp. no Brasil e da Patria Investimentos S.A., respectivamente. A G5, que possui cerca de 75 funcionários, também está adicionando outros associados, além de analistas e outros funcionários de nível júnior, segundo afirmaram duas pessoas com conhecimento direto das contratações.
A Rothschild também está contratando, confirmou outra fonte, sem dar mais detalhes. As empresas de reestruturação estão aumentando suas equipes na medida em que a contração econômica na principal economia da América Latina aumenta o ritmo. A receita está caindo para várias empresas, enquanto o pagamento das dívidas está cada vez mais difícil por conta da taxa padrão de juro no patamar mais alto desde 2006 e a moeda que caiu 40 por cento no último ano. O corrente escândalo de corrupção na Petróleo Brasileiro S.A. também criou restrição de crédito para seus fornecedores. Além disso, as empresas dependentes de commodities estão sofrendo com o colapso desse mercado.
“Nunca antes na história do Brasil tivemos tantas empresas grandes precisando fazer a reestruturação da sua dívida ao mesmo tempo, e isso está criando muita demanda em serviços de consultoria financeira a advogados”, disse Eduardo Musócio-fundador da E.Munhoz Advogados. O escritório foi criado em abril e está buscando ter 20 advogados até o início de 2016. Munhoz afirma que as leis e ulações brasileiras em relação à reestruturação da dívida e falência serão testadas na prática na medida em que o país começar a sair de um período de crédito abundante.
Quase metade de todas as empresas brasileiras, ou 3,9 milhões, não está pagando pelo menos parte das suas dívidas no prazo, de acordo com a Serasa Experian. As empresas que buscam proteção legal dos credores atingiram o patamar recorde de 135 em julho, no Brasil, avanço de 29 por cento em relação ao mês de junho, acrescentou a Serasa. “Infelizmente, mesmo nesse ambiente difícil, algumas empresas esperam tempo demais para começar a se reestruturar, fazendo isso apenas quando não possuem mais dinheiro e o valor dos seus ativos foram destruídos. A recuperação é impossível”, disse Claudio Citrin, diretor-gerente da BR Advisory Partners Participações S.A., um banco de investimento butique que iniciou uma unidade de reestruturação de dívidas há um ano.
“É uma questão cultural no Brasil: o dono fica deprimido e age como se fosse uma falha de caráter dele, quando, na verdade, ele deveria ser mais proativo enquanto ainda tem chances de salvar a sua empresa”, disse Citrin, que se negou a dar exemplos específicos. “Não há motivo para ter vergonha. A reestruturação é um processo normal em meio a uma crise como a que estamos enfrentando.”
Entre os clientes da BR Partners estão a Lupatech S.A., fornecedora da Petrobras que pediu falência em maio. A G5 Evercore, criada em 2007 pelo antigo sócio do Goldman Sachs Group Inc., Corrado Varoli, está prestando consultoria para as construtoras Engevix Engenharia S.A. e OAS S.A., envolvidas no escândalo de corrupção da Petrobras.
A G5 também está realizando uma avaliação para emissões de ações da Eneva S.A. A empresa brasileira pediu falência em dezembro. A Rothschild está auxiliando a PDG Realty S.A. Empreendimentos e Participações, uma das principais construtoras brasileiras em receita, a reestruturar sua dívida de 5,8 bilhões de reais (1,6 bilhão de dólares). A fabricante de cimento Tupi S.A. contratou a Rothschild em julho para renegociar o pagamento de suas dívidas.
As consultorias butiques de serviços financeiros atraem mais clientes que precisam de serviços de reestruturação de dívida por não sofrer os mesmos conflitos de interesse que os credores têm, afirma Citrin. “Mesmo se o banco não é um credor direto da empresa, ele pode expor competidores ou fornecedores, o que pode comprometer o trabalho”, disse.
Advogados enfrentam o mesmo problema. Uma das razões pelas quais Munhoz deixou seu antigo escritório, Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey e Quiroga Advogados, foi porque a empresa é uma das principais consultoras dos grandes bancos que são credores no Brasil. Enquanto estava lá, Munhoz defendeu a OGX Petróleo & Gás Participações S.A. no processo de default de 3,6 bilhões de dólares em títulos, o maior fracasso de pagamento de dívida na América Latina. Agora, Munhoz está trabalhando com a OAS e a PDG.