Por Shruti Date Singh e Fabiana Batista.
Os mercados agrícolas continuam apanhando e não há alívio à vista.
Investidores estão se livrando de produtos como soja e café, diante de uma combinação de fatores que mantém os preços na lona. Em primeiro lugar vem a guerra comercial engendrada pelo presidente americano, Donald Trump. As tarifas de retaliação da China sobre os produtos agrícolas exportados pelos EUA derrubam a demanda por algodão e soja. Paralelamente, o avanço da tecnologia para sementes e o clima favorável durante a temporada de desenvolvimento das plantas devem resultar em gigantescas colheitas de soja e milho. E para completar, a depreciação da moeda brasileira aumenta o interesse na venda dos produtos.
O total em ativos aplicados no maior fundo negociado em bolsa (exchange-traded fund ou ETF) que acompanha produtos agrícolas, o DB Agriculture Fund, diminuiu US$ 114 milhões no terceiro trimestre, o maior volume de resgates desde o último trimestre de 2015. O fundo caminha para registrar o segundo ano consecutivo de saída líquida de recursos.
Estoques aumentam
Na sexta-feira, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) informou que os estoques de milho, soja e trigo do país em 1º de setembro estavam maiores do que os analistas esperavam. O excedente de oferta coincide com o início da colheita na América do Norte, o que sugere que o excesso vai aumentar. A reserva de soja é a maior para esta época do ano desde 2007.
O contrato futuro de soja em Chicago para entrega em novembro perdeu 3,9 por cento no terceiro trimestre, chegando a US$ 8,455 por bushel. Os compromissos para exportações de soja dos EUA na temporada 2018-2019 estão 16 por cento abaixo do que se registrava um ano atrás, diante das tarifas adotadas pela China.
Os agricultores tentarão enfrentar a guerra comercial estocando ainda mais soja, de acordo com a Bunge.
Apostas dos fundos
As taxas de retorno no mercado agrícola estão entre as piores observadas neste ano, ficando atrás das ações e mesmo de outras commodities. No entanto, os investidores vêm apostando na queda de preços há meses.
Na semana encerrada em 25 de setembro, as posições líquidas a descoberto em 11 produtos agrícolas somaram 287.901 contratos futuros e de opções, de acordo com dados publicados na sexta-feira pela Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA (CFTC). Esse saldo entre apostas de alta e queda dos preços sinaliza o maior pessimismo já visto neste período do ano. As posições cobrem cacau, milho, algodão, café, bovinos, suínos, açúcar, soja, farelo de soja, óleo de soja e trigo.
Turbulência no Brasil
A eleição presidencial no Brasil reverbera nos mercados. A incerteza política derrubou o real, aumentando a atratividade de produtos agrícolas cotados em dólares. O País é o maior exportador mundial de açúcar e café e segundo em algodão. Um índice que acompanha o trio das chamadas soft commodities está próximo do menor patamar em registro.
Chuvas recentes também melhoraram as condições dos cafezais, com “excelente” florada em Minas Gerais e São Paulo, sugerindo safra generosa no ano que vem, de acordo com Regis Ricco Alves, diretor da RR Consultoria Rural, de Varginha. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta safra recorde.
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