Por Fabiana Batista e Marvin G. Perez.
As exportações brasileiras de algodão aumentaram 42% em uma temporada recorde puxadas pela China, que optou pelos produtos do Brasil diante da guerra comercial com os Estados Unidos.
Além da disputa comercial, o câmbio também foi um fator importante. O real perdeu quase 9% em relação ao dólar desde meados de julho, tirando a competitividade dos produtos dos EUA. O algodão se une à soja e ao milho entre as exportações agrícolas brasileiras que mais crescem para a China e que ganham mercado dos EUA, principal rival.
No início deste mês, o presidente Donald Trump deve ter deixado autoridades da Argentina e do Brasil perplexas quando anunciou no Twitter planos para impor novas tarifas sobre o aço, alegando que esses países estavam desvalorizando artificialmente suas moedas. O tuíte destacou o quanto o dólar forte tem afetado os agricultores americanos.
“O Brasil teve safras gigantes, e essas exportações maiores eram necessárias”, disse por e-mail Elcio Bento, analista da consultoria Safras & Mercado. “Em 2020, a previsão é de outra grande safra.”
Desde o início da temporada em julho, o Brasil exportou 1,06 milhão de toneladas de algodão, acima do recorde anterior de 748 mil toneladas em 2018, segundo dados do governo compilados pela Safras.
O Departamento de Agricultura dos EUA disse em relatório neste mês que a China passou a comprar produtos do Brasil para reabastecer as reservas estatais, deixando de lado exportadores tradicionais.
Comerciantes do setor privado da China também “optaram por originar do Brasil devido às altas tarifas retaliatórias sobre o algodão americano”, afirmou o USDA. O Brasil se beneficiou da “crescente aceitação” da qualidade de seu algodão, informou a agência.
Em outubro, as exportações brasileiras para China, Vietnã, Bangladesh, Indonésia e Turquia ultrapassaram as dos EUA, o maior exportador mundial, informou o USDA.
O Brasil planeja ganhar mais mercados para compensar o alívio das tensões comerciais entre os EUA e a China, disse em mensagem de texto Marco Antonio Aluisio, vice-presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (ANEA).
“Os EUA são a origem preferida devido à sua variedade de qualidades disponíveis, confiabilidade e pontualidade de entrega e informações de classificação verificáveis pelo USDA para cada fardo adquirido”, disse por e-mail Louis Rose, diretor de pesquisa e análise do Rose Commodity Group em Memphis, Tennessee.
Ainda assim, “as vendas brasileiras para a China podem seguir fortes” já que o país asiático está aumentando suas reservas, disse Rose.