Por Shira Ovide.
A Amazon está dominando o mundo. E, paradoxalmente, isso pode prejudicar a capacidade da Amazon de dominar o mundo.
Sabe-se há algum tempo que as ambições da Amazon não conhecem muitas barreiras. Claro, a Amazon é um shopping-center global. Mas também está fabricando seus próprios produtos domésticos, como lencinhos de bebês e baterias, está se tornando uma gigante silenciosa no ramo de publicidade, está abrindo suas próprias livrarias e mercados, talvez ofereça um serviço de internet, nos entretém com streaming de música e de TV e está solucionando a entrega de pacotes por terra, mar, ar e com drones.
A Amazon quer aliados para sua agenda de crescimento que abrange diversos setores, mas não será fácil. A Amazon tem a reputação de ser um rolo compressor. Seu sucesso e as suspeitas em relação às intenções da empresa podem custar à Amazon os clientes ou parceiros de que a companhia precisa para cumprir seu destino manifesto.
Por exemplo, há sinais de que as empresas de varejo estão relutando em usar o Amazon Web Services, o serviço de computação em nuvem que é o favorito dos investidores da Amazon. Brian Nowak, analista do Morgan Stanley, escreveu recentemente que o concorrente para o AWS do Google tem uma chance de conseguir clientes do varejo temerosos de usar o AWS. Faz sentido que os varejistas estejam hesitantes em pagar uma parte da Amazon para financiar táticas que destroem varejistas da outra parte. Pelos mesmos motivos, algumas varejistas também não estão muito ansiosas para usar as ferramentas de pagamentos digitais da Amazon ou seu mercado para vendas de produtos por comerciantes independentes.
Os aliados relutantes da Amazon vão muito além dos varejistas. A Amazon está tentando convencer os fabricantes de produtos domésticos como cereais e bolachas a remodelarem as embalagens de seus produtos e sua cadeia de abastecimento tendo como foco os pedidos on-line, e não a otimização das vendas nas lojas físicas.
A reformulação das embalagens é uma ideia razoável que ajuda a Amazon e as empresas de produtos domésticos em um momento em que um número maior de pessoas está comprando por meio de computadores. Mas também é compreensível que os fabricantes de detergente para roupas não acreditem que a Amazon esteja interessada em ajudá-los, considerando que a Amazon também está fabricando seu próprio detergente para roupas e seu próprio café.
A Amazon quer mudanças nas entregas do FedEx para acelerar o caminho brutal dos cliques digitais às entregas em casa. Isso soa excelente, até a Amazon obrigar o FedEx a investir fortemente para lidar com um rápido aumento do número de pedidos que nunca se materializa — ou até a Amazon competir diretamente com o FedEx.
Repita esse padrão em outros setores e você poderá ver muitos negócios que a Amazon poderá perder por causa de seu poder, sua impaciência e sua agressividade.
Parte dessa relação de amor e ódio com os colaboradores e clientes da Amazon é consequência natural de uma empresa poderosa com muitas frentes abertas. Mais titãs da tecnologia enfrentarão suspeitas quando consolidarem seu poder e à medida que mais setores dependerem deles para sua subsistência.
É irônico, porém, que as ambições da Amazon, sua estratégia inteligente e sua crueldade pura sejam os fatores que a impulsionaram aos seus primeiros US$ 100 bilhões em vendas anuais. E que essas mesmas qualidades podem ser uma barreira para sua marcha rumo aos seus próximos US$ 100 bilhões.
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