Por Brian Chappatta.
As “mãos mais lisas” do maior mercado de títulos de dívida do mundo – especuladores capazes de mudar de lado subitamente – aparentemente conseguem segurar suas posições com mais firmeza do que se pensa.
Os fundos de hedge não dão sinais de recuo das apostas sem precedentes que fizeram contra os títulos do Tesouro americano, mesmo após os rendimentos terem chegado a um platô e caído para um intervalo estreito nas últimas três semanas. A insistência dos investidores do “dinheiro ligeiro” nessas apostas vendidas sinaliza que a pressão para elevação dos rendimentos deve persistir.
O posicionamento dessa categoria pode servir como indicador contrário: quando eles esperam desvalorização dos títulos, frequentemente surge uma onda de apreciação. Isso não aconteceu até agora. O que se vê é o impacto negativo causado pela ampliação do déficit público dos EUA, pelo aumento dos leilões de títulos pelo Tesouro e pelos acréscimos na taxa básica de juros pelo banco central (Federal Reserve) – fatores aos quais Jeffrey Gundlach, diretor de investimentos da DoubleLine Capital, se referiu nesta semana como um “coquetel bastante perigoso”.
Basta um empurrãozinho
Quem prevê queda dos rendimentos — como BMO Capital Markets e Citigroup — entende que bastará um evento para desencadear um movimento de ganhos. O fato de os rendimentos oscilarem em um intervalo estreito lança dúvidas sobre os argumentos de otimistas e pessimistas. O rendimento do título do Tesouro com prazo de 10 anos, que estava em 2,97 por cento às 7:30 desta manhã de quinta-feira em Nova York, ainda não rompeu a máxima intradiária de janeiro de 2014. O pico mais recente foi atingido há duas semanas.
Ainda assim, os especuladores não se abalaram. A posição vendida líquida deles em contratos futuros de 10 anos na semana encerrada em 1º de maio estava muito próxima do recorde estabelecido na semana anterior. No mercado de futuros de títulos mais longos, esses especuladores adotaram posição vendida líquida pela primeira vez em um ano, além de montar uma posição recorde contra títulos do Tesouro com vencimento em cinco anos.
“A diferença desta vez é que o Fed está bem longe da taxa zero e há mais convicção agora de que não hesitará”, explicou George Gonçalves, estrategista-chefe de renda fixa para as Américas da Nomura. “E é mais tranquilo manter uma posição vendida quando se sabe que virá uma tonelada de títulos pela frente.”
A Nomura calcula que o rendimento do título do Tesouro americano com prazo de 10 anos subirá para 3,25 por cento até o fim do ano. Já a BMO mantém a expectativa de recuo para 2,4 por cento, enquanto o Citigroup vê espaço para ganhos de curto prazo nos instrumentos que levariam a taxa a cerca de 2,7 por cento.
Para tal movimento de apreciação se concretizar, o rendimento do papel de 10 anos primeiramente teria de recuar 0,15 ponto percentual em relação à máxima recente de 3,03 por cento, o que provavelmente bastaria para forçar alguns especuladores a cobrir posições vendidas, prevê Jason Williams, estrategista de juros do Citigroup.
‘Mãos mais lisas’
Ian Lyngen e Aaron Kohli, estrategistas do BMO, consideram os especuladores as “mãos mais lisas” desse mercado e acreditam que sairão de posições vendidas se os rendimentos dos papéis de 10 e 30 anos continuarem sem romper seus respectivos intervalos de 2018.
O fator decisivo pode ser por quanto tempo o “dinheiro ligeiro” está disposto a permanecer onde está. A estimativa mediana de 60 analistas sondados pela Bloomberg é que o rendimento do título do Tesouro americano de 10 anos encerrará o ano em 3,14 por cento.
A outra pergunta é: quem sobrou para apostar contra os títulos do Tesouro, dado que as posições líquidas já estão tão esticadas?
O que se sabe ao certo é que, com os investidores de títulos concentrados em posições ao redor de 3 por cento há semanas, o próximo movimento que romper essa faixa pode ser crítico.
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