Por Selina Wang.
Win Cramer nunca imaginou que sua pequena empresa de eletrônicos de consumo sofreria tanto durante o governo de um presidente republicano que prometia colocar a América em primeiro lugar. Responsável pela JLab Audio, Cramer foi forçado a repensar toda a sua estratégia por causa das tarifas que Donald Trump impôs sobre produtos chineses e calcula que 70 por cento dos produtos de sua empresa serão afetados.
O governo dos EUA já avançou planos de tarifar US$ 50 bilhões em bens chineses e Trump ameaçou taxar mais US$ 200 bilhões (acrescentando que a quantia pode ser muito maior). As 200 páginas listando os produtos afetados pela última rodada de tarifas incluem eletrônicos de consumo prontos para venda. A JLab Audio projeta fones de ouvido, alto-falantes e headphones nos EUA e fabrica na China. Se as novas tarifas entrarem em vigor, vai ficar mais caro produzir a maioria dos produtos da companhia sediada em Carlsbad, na Califórnia, obrigando Cramer a absorver o custo ou repassar o aumento para o consumidor.
“Não somos uma multinacional e não temos diversos produtos. Estou competindo com a Apple, que vende em países que não necessariamente aplicam tarifas, e tem várias linhas de produtos que não são impactadas. Isso prejudica quem é pequeno”, lamenta Cramer.
Nos últimos anos, pequenas fabricantes de hardware prosperaram apesar da concorrência com a Apple e outras gigantes de tecnologia, em parte porque conseguem produzir barato na China. Mas devido ao porte, geralmente têm margem de lucro menor do que rivais maiores e são as primeiras a sofrer na guerra comercial entre China e EUA.
O problema logo pode atingir fabricantes de médio porte como a Sonos, que fabrica alto-falantes no país asiático. Na documentação apresentada para abrir o capital, a companhia alertou que as tarifas podem afetar o faturamento. Até Apple, Amazon.com e Google podem sentir o baque. Para Sage Chandler, da área de comércio internacional da Associação de Tecnologia de Consumo, o texto que embasa as tarifas é tão amplo que pode incluir qualquer produto conectado à internet — de controles para streaming de vídeo a assistentes digitais ativados por voz.
As gigantes parecem estar a salvo por ora. Apple, Bose e Sony têm a opção de usar outros produtos e serviços para compensar a alta de custos e evitar subir preços. A JLab Audio não tem esse luxo e talvez pare de vender produtos se o preço deixar de ser competitivo. Se as gigantes decidirem repassar os custos para os lojistas, as vendas da categoria toda podem esfriar.
A nova lista de tarifas inclui uma infinidade de componentes de aparelhos eletrônicos, como vidros, cabos, semicondutores, carregadores, adaptadores e protetores de circuito. Entender exatamente o impacto da medida vai consumir tempo e recursos das empresas, especialmente das menores, disse Chandler. Trump prometeu flexibilizar regras, mas as tarifas aumentam a burocracia.
Segundo Chandler, “essas tarifas se tornam um imposto sobre as empresas dos EUA”. De acordo com sua Associação de Tecnologia de Consumo, os eletrônicos de consumo representam aproximadamente metade dos bens visados na primeira rodada de tarifas, que entrou em vigor em 6 de julho.
Essa rodada também pode prejudicar empresas que fazem eletrodomésticos inteligentes, como a HiberSense, sediada em Pittsburgh, que lançou no mês passado um sistema automatizado de climatização que demorou dois anos para ser desenvolvido. Segundo o diretor de vendas Bob Fields, a maior parte do sistema é fabricada nos EUA, mas o termostato é feito na China e sujeito a taxação.
“Em vez de expandir minha empresa e contratar funcionários, preciso me preocupar em proteger a empresa”, disse Fields. “É um desvio de recursos que desagrada os investidores.” Ele acrescenta: “Prefiro estar no comando do nosso destino em vez de estar sujeito aos caprichos de políticos. O que acontece se a situação se agravar?”
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