O presidente americano, Donald Trump, ameaçou taxar todo e qualquer produto vindo da China. As duas maiores economias do mundo já trocaram os primeiros tiros em uma guerra comercial que não terminará tão cedo.
Após meses de promessas, entrou em vigor logo após a meia-noite desta sexta-feira em Washington a alíquota de 25 por cento sobre US$ 34 bilhões em produtos chineses que chegam aos EUA, incluindo máquinas agrícolas e componentes de aeronaves. A China revidou imediatamente taxando produtos vindos dos EUA, como soja e automóveis.
Nenhum lado dá sinais de que vai recuar. Trump já está de olho em tarifas sobre mais US$ 16 bilhões em itens chineses e sugere que a conta final pode passar de US$ 500 bilhões, o que é mais do que os EUA compraram em 2017. O Ministério de Comércio da China acusou os EUA de “bullying” e de deflagrar “a maior guerra comercial na história econômica”.
A primeira rodada de tarifas dos EUA voltadas apenas para a China tende a agradar os eleitores de Trump que concordam com o lema dele “America First” (ou a América em primeiro lugar) e com o argumento de que Pequim joga sujo há anos, roubando propriedade intelectual dos EUA e passando a perna na indústria americana.
No entanto, o agravamento do conflito ameaça o crescimento econômico ao desestabilizar as cadeias internacionais de suprimentos e elevar preços para empresas e consumidores. O banco central americano (Federal Reserve) já avisou que algumas companhias reduziram investimentos, enquanto Harley-Davidson e General Motors alertaram que podem demitir funcionários.
“Claramente as primeiras saraivadas de balas foram trocadas e a guerra comercial começou”, disse Louis Kuijs, economista-chefe para a Ásia da Oxford Economics. “Não há um fim óbvio para isso.”
O tamanho do estrago na economia depende de até onde os dois lados estão dispostos a chegar. Se EUA e China se acalmarem após uma primeira rodada de tarifas, as consequências serão modestas, segundo a Bloomberg Economics.
Mas em uma guerra comercial ampla, em que os EUA impõem tarifas de 10 por cento a todos os países e eles reagem, economistas estimam que o crescimento americano poderia diminuir em 0,8 ponto percentual até 2020. Trump já taxou aço e alumínio trazidos do exterior, provocando reações da União Europeia e do Canadá, que temem que o próximo alvo dele será o setor automotivo.
“Nossa visão é que a guerra comercial nunca é uma solução”, declarou o premiê Li Keqiang durante uma viagem à Bulgária. “Ninguém sai vencedor de uma guerra comercial, ninguém se beneficia.”
Estas são algumas das armas de Trump contra a China:
Os EUA têm déficit comercial bilateral de US$ 336 bilhões com a China. Ao importarem muito mais do que o outro lado, os americanos têm uma vantagem inicial. Trump declarou que é “fácil ganhar” batalhas comerciais e aposta que o conflito convencerá empresas americanas a trazer operações de volta para os EUA.
No entanto, a primeira rodada de tarifas adotadas pelo governo chinês impacta significativamente alguns itens, colocando as vendas em jogo. Por exemplo, o whisky americano será taxado em 30 por cento, comparado com uma alíquota de 5 por cento para bebidas alcoólicas de outros países. Já a soja dos EUA será taxada em 28 por cento, enquanto a tarifa para a oleaginosa de outros países foi zerada recentemente.
A China também pode retaliar atacando empresas americanas como Apple e Walmart, que têm planos de expansão no mercado chinês. O governo pode penalizar essas companhias por meio de atrasos na alfândega, auditorias fiscais e maior rigor regulatório. Uma medida mais drástica seria depreciar o yuan ou reduzir a posição chinesa em títulos do Tesouro americano, que chega a US$ 1,2 trilhão.
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