Por Justina Lee.
Com a disparada das ações após as pesquisas de intenção de voto apontarem que Emmanuel Macron levará facilmente a eleição à presidência da França, uma vitória de sua oponente, a candidata antieuro Marine Le Pen, provavelmente abalaria os mercados, que já estão descartando riscos à estabilidade da região.
Embora a margem nas pesquisas que apontam esse desfecho seja maior do que se observava antes da prevalência do Brexit no Reino Unido ou de Donald Trump nos EUA, uma vitória improvável de Le Pen poderia provocar imediatamente perdas e enormes perdas, segundo analistas e gestores de recursos. Também haveria uma nova disparada da volatilidade.
“A dificuldade com a vitória de Le Pen é que o risco político aumentaria dramaticamente, então todos os setores com beta elevado sofreriam”, disse o gestor de carteiras Vincent Durel, que trabalha na Fidelity International em Paris, se referindo às ações mais sensíveis às oscilações do mercado. A firma dele supervisiona US$ 294 bilhões fora dos EUA. “As ações defensivas podem se beneficiar – em termos relativos porque acho que todas vão cair em termos absolutos.”
As pesquisas de intenção de voto mostram Macron com cerca de 20 pontos de vantagem. Em sua grande maioria, os participantes de uma sondagem afirmaram que ele foi o melhor no debate de quarta-feira, marcado por trocas de acusações entre os dois candidatos. O CAC 40 avançou 0,8 por cento nesta quinta-feira para o maior nível em nove anos.
Embora a maioria dos analistas projete queda generalizada das ações se Le Pen prevalecer no segundo turno, no domingo, algumas ações seriam particularmente afetadas.
VENCEDORAS:
Empresas de defesa
Le Pen defende aumentar o gasto com defensa nacional para 3 por cento do PIB até 2022 (Macron propõe 2 por cento) e ampliar o quadro de policiais e as forças de segurança.
Empresas de energia nuclear e carvão
Le Pen apresentou um plano multibilionário para renovar as usinas nucleares, em contraste com os planos de Macron e do atual governo de reduzir a dependência dessa fonte de energia.
Gigantes globais
Da mesma forma que o tombo da libra esterlina após o Brexit impulsionou a receita das gigantes globais listadas no Reino Unido, a depreciação do euro em resposta a uma vitória de Le Pen poderia favorecer as corporações listadas na França. As principais componentes do CAC 40 — como LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton, L’Oréal, Sanofi e Airbus — têm pouca exposição à economia doméstica.
Ações de natureza defensiva
Empresas consideradas mais imunes ao ciclo econômico – como produtoras de bens de consumo básico e farmacêuticas – também podem se mostrar mais resistentes, segundo relatório escrito por analistas do Société Générale liderados por Roland Kaloyan.
Fabricantes de cigarros, alimentos e bebidas e prestadoras de serviços de saúde se mostraram as mais defensivas quando os spreads dos títulos dos países periféricos se ampliaram durante a crise da dívida da zona do euro, em 2012, segundo relatório de estrategistas do UBS Group.
PERDEDORES:
Bancos
Uma vitória de Le Pen poderia ser devastadora para os bancos regionais, que estiveram entre os maiores ganhadores após o primeiro turno. Uma queda dos rendimentos dos títulos em meio à busca por segurança azedaria as expectativas para os lucros dos bancos. A oposição dela ao euro alimentaria temores de que, no pior cenário possível, a França poderia abandonar a moeda única, provocando seu colapso e obrigando os bancos a denominar seus ativos em outra moeda.
Concessionárias
Proponente do “patriotismo econômico”, Le Pen defende a nacionalização de aeroportos e estradas. De acordo com o Société Générale, isso prejudicaria concessionárias como Vinci, Eiffage e a espanhola Abertis Infraestructuras, dona da Sanef na França.
Companhias francesas endividadas
O aumento da incerteza econômica após uma vitória de Le Pen prejudicaria em especial as firmas francesas com grande exposição ao cenário doméstico. Aquelas com enormes dívidas em euros – como bancos, incorporadoras de imóveis e distribuidoras de eletricidade – também sofreriam com temores de a França voltar a adotar uma moeda nacional potencialmente mais fraca, de acordo com o UBS.
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