Por Tim Culpan.
Um dos segmentos mais monótonos do setor de tecnologia se envolveu em um drama nas últimas semanas devido a um ataque cibernético com direito a perda de produção.
As memórias flash NAND são importantes – as fotos de suas férias e seus aplicativos favoritos dependem delas. Mas em meio à corrida por telas mais nítidas e câmeras de alta resolução, poucos param para pensar nos chips que vão dentro do iPhone e armazenam todos esses dados importantes (e inúteis).
Estes são os chips que levaram um grande número de pretendentes internacionais à porta da Toshiba no início do ano. A Western Digital e a Apple dependem deles, e a Bain Capital Private Equity e a Foxconn Technology Group queriam mais controle sobre eles. A Bain, em associação com a Apple, ganhou a briga de US$ 18 bilhões pela divisão de chips da Toshiba.
E então vieram os supostos ataques de hackers. O Digitimes, um website de notícias sobre tecnologia com sede em Taipé, noticiou na segunda-feira que um ransomware forçou a Toshiba a interromper a fabricação por algumas semanas, reduzindo a produção em 100.000 wafers. O número é grande, equivalente a cerca de 20 por cento da capacidade mensal da Toshiba, segundo a empresa de pesquisa TrendForce.
Em resposta enviada por e-mail à Gadfly, a Toshiba negou a suspensão da produção em Yokkaichi, local onde mantém sua fábrica de NAND, e afirmou que não foi abordada pelo Digitimes para comentar o assunto.
Ainda assim, uma pessoa familiarizada com o assunto disse à Gadfly que a empresa foi atingida por um vírus — e não por um ransomware — no início de setembro que afetou algumas instalações de produção e levou a Toshiba a alertar os clientes sobre pequenos atrasos na entrega. Como o vírus continuava dentro da empresa, esta decidiu não divulgar quais instalações foram afetadas nem a escala exata dos danos.
Mesmo antes da publicação do Digitimes, o gerente de pesquisa sênior da TrendForce, Alan Chen, havia ouvido os rumores e correu para o telefone para checar o assunto com suas fontes: sim, houve algum incidente na Toshiba; sim, a produção foi afetada; não, a escala não chegou a 100.000 wafers. Foi menos da metade disso, disse ele à Gadfly.
A queda na produção ressalta a importância do setor e sua falta de transparência. A Toshiba é a segunda maior fornecedora de flash NAND, com participação de mercado de 17,5 por cento, atrás da Samsung Electronics, que tem 35,6 por cento, estima a TrendForce. Além disso, já se projeta que a oferta deste ano ficará 2,9 por cento abaixo da demanda porque o crescimento está superando a expansão da capacidade. Um novo investimento pesado, incluindo 330 bilhões de ienes (US$ 2,9 bilhões) da Toshiba, deverá reequilibrar o setor no ano que vem.
Com isso, qualquer possível restrição de oferta ganha importância, especialmente em meio à preocupação de que o iPhone X possa estar enfrentando déficit de produção e com tantos outros smartphones sendo lançados por marcas como Huawei, Google, Xiaomi e Samsung.
O drama também aumenta a falta de transparência do mercado flash. As fabricantes vêm desativando ou retardando suas linhas para converter suas instalações para melhorar os equipamentos, enquanto algumas empresas estão construindo fábricas totalmente novas. Esse processo afeta a produção a curto prazo, mas quando as atualizações estiverem concluídas a capacidade dará um salto, e é a escala e o momento dessas mudanças que têm tornado pouco claro o panorama global de oferta e demanda.
Enquanto os participantes do setor — incluindo investidores e marcas internacionais de eletrônicos — tentam acompanhar os avanços, há grandes chances de mais rumores e incidentes deixarem o setor mais entediante da tecnologia um pouco mais interessante.
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