Contratos de energia solar caíram 24% em dólares, embora tenha havido uma nova capacidade fotovoltaica recorde, quebrando a barreira dos 100 GW pela primeira vez.
O investimento mundial em energia limpa [1] totalizou US$332,1 bilhões em 2018, uma queda de 8% em relação a 2017. O ano passado foi o quinto consecutivo em que o investimento ultrapassou a marca de US$300 bilhões, segundo dados oficiais da empresa de pesquisa BloombergNEF (BNEF).
Houve contrastes evidentes entre os setores de energia limpa em termos da mudança no investimento em dólar no ano passado. O investimento em energia eólica subiu 3%, para US$128,6 bilhões, com a eólica offshore tendo seu segundo maior ano. O dinheiro alocado para lançamentos de medidores inteligentes e financiamentos de empresas de veículos elétricos também aumentou.
No entanto, as mudanças mais marcantes foram no setor de energia solar. O investimento total nesse setor caiu 24%, para US$130,8 bi. Parte desta redução foi devido ao declínio acentuado dos custos de capital. O benchmark global da BNEF para o custo de instalação de um megawatt de capacidade fotovoltaica caiu 12% em 2018, uma vez que os fabricantes reduziram preços de venda graças ao excedente de módulos fotovoltaicos no mercado mundial.
Este foi agravado por uma mudança brusca na política da China no meio do ano. O governo agiu para acalmar o boom solar do país, restringindo o acesso de novos projetos à sua tarifa de feed-in. O resultado disso, combinado com custos unitários mais baixos, foi que o investimento solar chinês despencou 53%, para US$40,4 bihões em 2018.
Jenny Chase, chefe de análise solar da BNEF, comentou: “2018 foi certamente um ano difícil para muitos produtores de energia solar e empreendedores na China. No entanto, estimamos que as instalações fotovoltaicas globais aumentaram de 99 GW em 2017 para aproximadamente 109 GW em 2018, à medida que outros países aproveitaram a competitividade intensamente otimizada da tecnologia.”
Os maiores projetos de energia solar financiados incluem o portfólio NOORm Midelt fotovoltaico e térmico de 800 MW no Marrocos, a uma estimativa de US$2,4 bilhões, e a usina fotovoltaica NLC Tangedco de 709 MW na Índia, a um custo de cerca de US$500 milhões. A Índia é um dos países com o menor custo de capital por megawatt para usinas fotovoltaicas.
O setor de energia eólica offshore foi um grande beneficiário do investimento em energia limpa no ano passado, atraindo US$25,7 bilhões, um aumento de 14% em relação ao ano anterior. Alguns dos projetos financiados estão na Europa, liderados pela matriz Moray Firth East de 950 MW no Mar do Norte, com um valor estimado de US$3,3 bilhões, e também 13 parques eólicos offshore chineses iniciando construção, para um total de US$11,4 bilhões.
David Hostert, diretor de análise eólica da BNEF, disse: “O balanço da atividade offshore está se inclinando. Países como Reino Unido e Alemanha foram pioneiros nesta indústria e continuarão sendo importantes, mas a China está assumindo o papel de maior mercado, e novas regiões como Taiwan e a Costa Leste dos EUA estão recebendo grande interesse por parte de desenvolvedores.”
A energia eólica terrestre registrou US$100,8 bilhões em financiamento de ativos no ano passado, alta de 2%, com os maiores projetos sendo aprovados, incluindo o portfólio Enel Green Power South Africa de 706 MW, em US$1,4 bilhão, e a instalação Xcel Rush Creek nos EUA, em US$1 bilhão para 600 MW.
Entre outros setores de energia renovável, o investimento em biomassa e energia a partir de resíduos aumentou 18%, para US$6,3 bilhões, enquanto o dos biocombustíveis subiu 47%, para US$3 bilhões. Energia geotérmica subiu 10% em US$1,8 bilhão, pequenas hidrelétricas caíram 50% em US$1,7 bilhão e marítima subiu 16% em US$180 milhões. O investimento total em projetos de energia renovável em escala de utilidade pública e sistemas solares de pequena escala em todo o mundo caiu 13% em relação ao ano anterior, em US$256,5 bilhões, embora a capacidade de gigawatts adicionada tenha aumentado.
Outras categorias de investimento mostraram tendências mistas em 2018. Despesas com pesquisa e desenvolvimento corporativo caíram 6%, para US$20,9 bilhões, enquanto a P&D governamental subiu 4%, para US$15 bilhões. Houve aumento de 20% nos investimentos públicos em empresas especializadas em energia limpa, para US$10,5 bilhões, com as maiores ofertas iniciais incluindo US$1,2 bilhão para a empresa chinesa de veículos elétricos NIO, US$852 milhões para a fabricante chinesa de baterias para carros elétricos Contemporary Amperex Technology e US$808 milhões para o desenvolvedor solar francês Neoen.
Capital de risco e investimento em private equity mundiais saltaram 127% para US$9,2 bilhões, a maior marca desde 2010. Os maiores negócios foram US$1,1 bilhão em capital de expansão para a fabricante americana de vitrines inteligentes View e US$795 milhões para a empresa chinesa de veículos elétricos Youxia Motors. Efetivamente, foram pelo menos oito financiamentos de capital de risco e private equity de empresas chinesas especializadas em veículos elétricos em 2018, totalizando cerca de US$3,3 bilhões.
Analisando os números de investimento em energia limpa de 2018 por país, a China voltou a ser líder absoluta, mas seu total de US$100,1 bilhões caiu 32% em relação ao número recorde de 2017, devido à queda no valor de negócios solares.
Jon Moore, executivo-chefe da BNEF, comentou: “Mais uma vez, as ações da China estão desempenhando um papel importante na dinâmica da transição energética, ajudando a reduzir os custos solares, expandir os mercados de energia eólica offshore e veículos elétricos, e suspender investimentos de capital de risco e private equity.”
Os EUA foram o segundo maior país investidor com US$64,2 bilhões, uma alta de 12%. Os desenvolvedores estão se apressando para financiar projetos de energia eólica e solar, a fim de aproveitar incentivos de crédito fiscal, antes que eles expirem no início da próxima década. Houve também um ‘boom’, tanto nos EUA quanto na Europa, na construção de projetos que se beneficiam de contratos de compra de energia assinados por grandes corporações como Facebook e Google.
Na Europa o investimento em energia limpa subiu de 27% para US$74,5 bilhões, auxiliado pelo financiamento de cinco projetos eólicos offshore na categoria de mais de um bilhão de dólares. Houve também uma recuperação acentuada no mercado solar espanhol, favorecida por custos fortemente reduzidos e pela continuação da construção de grandes parques eólicos na Suécia e na Noruega, oferecendo eletricidade de baixo custo a consumidores industriais.
Outros países e territórios que investiram mais de US$2 bilhões em energia limpa em 2018 foram:
- Japão com US$27,2 bilhões, queda de 16%
- Índia com US$11,1 bilhões, queda de 21%
- Alemanha com US$10,5 bilhões, queda de 32%
- Reino Unido com US$10,4 bilhões, alta de 1%
- Austrália com US$9,5 bilhões, alta de 6%
- Espanha com US$7,8 bilhões, alta de sete vezes
- Países Baixos com US$5,6 bilhões, alta de 60%
- Suécia com US$5,5 bilhões, alta de 37%
- França com US$5,3 bilhões, alta de 7%
- Coreia do Sul com US$5 bilhões, alta de 74%
- África do Sul com US$4,2 bilhões, alta de 40 vezes
- México com US$3,8 bilhões, queda de 38%
- Vietnam com US$3,3 bilhões, alta de 18 vezes
- Dinamarca com US$3,2 bilhões, alta de cinco vezes
- Bélgica com US$2,9 bilhões, alta de quatro vezes
- Itália com US$2,8 bilhões, alta de 11%
- Marrocos com US$2,8 bilhões, alta de 13 vezes
- Taiwan com US$2,4 bilhões, alta de 134%
- Ucrânia com US$2,4 bilhões, alta de 15 vezes
- Canadá com US$2,2 bilhões, queda de 34%
- Turquia com US$2,2 bilhões, queda de 5%
- Noruega com US$2 bilhões, sem mudança
Alguns dos totais históricos de investimentos em energia limpa em anos anteriores foram revisados, para levar em conta novas informações sobre projetos e negócios. Isto ocorre, por exemplo, no valor de 2017. Os números atualizados para o investimento total são: US$61,7 bilhões em 2004, US$88 bilhões em 2005, US$129,2 bilhões em 2006, US$182,2 bilhões em 2007, US$205,2 bilhões em 2008, US$206,8 bilhões em 2009, US$276,1 bilhão em 2010, US$324 bilhões em 2011, US$290,7 bilhões em 2012, US$268,6 bilhões em 2013, US$321,3 bilhões em 2014, US$360,3 bilhões em 2015, US$330,1 bilhão em 2016, US$361,7 bilhões em 2017 e US$332,1 bilhão em 2018.
Mais informações sobre os números do investimento em energia limpa em 2018 podem ser encontradas em https://about.bnef.com/clean-energy-investment/.
[1] Investimento em energia renovável excluindo grandes projetos hidrelétricos, mas incluindo a captação de recursos por empresas de smart grid, energia digital, armazenamento de energia e veículos elétricos.
Entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.