Por Josue Leonel.
A bolsa brasileira tem espaço para subir mesmo após ter fechado 2019 com preços acima da média histórica, impulsionada pelas reformas econômicas e a migração para a renda variável motivada pelos juros baixos, segundo Emy Shayo, estrategista de ações para a América Latina do JPMorgan.
“O Brasil tem uma história para contar, uma narrativa”, disse em entrevista no escritório da Bloomberg em São Paulo.
O avanço da agenda econômica contribuiu para deixar a relação entre preços e lucros das empresas da bolsa acima da média histórica, fenômeno considerado comum em países que passaram por esse tipo de mudança, como a Índia e o México. “Há um prêmio por reformas,” disse ela.
Emy, que prevê expansão de 2% do PIB, vê a perspectiva de recuperação agora como “mais estrutural”, mas ainda dependente da implementação da agenda do governo. A expectativa é que as reformas sigam evoluindo, apesar das eleições municipais de outubro e das sucessões dos presidentes da Câmara e Senado, em 2021.
A estrategista acredita na aprovação do marco do saneamento neste ano, e considera relevante o avanço da PEC emergencial, que facilita cumprimento do teto de gastos, e da reforma administrativa. Já a reforma tributária enfrenta falta de consenso.
“É importante entregar as reformas para manter este momentum e ter expectativa de lucros crescentes das empresas”, disse Emy. “O importante é ter progresso”.
Migração
A bolsa também é favorecida pelas perspectivas mais favoráveis sobre a economia global, e pela maior procura pela renda variável entre investidores locais, que buscam alternativas em um cenário em que a Selic baixa derruba retornos da tradicional renda fixa. O movimento tem compensado a saída dos investidores estrangeiros, que seguem retirando dinheiro do mercado de ações brasileiro.
Os fundos de ações encerraram 2019 com o melhor resultado anual e a maior captação líquida da indústria, com R$ 86,2 bilhões, um crescimento de 195% em relação a 2018, segundo dados da Anbima. Já a classe de renda fixa registrou saída líquida de R$ 69,3 bilhões em 2019, o pior resultado desde 2008.
A perspectiva é que o movimento continue. “A alocação pode dobrar em relação ao que está hoje,” disse Emy.