Juro negativo é novo normal para próxima recessão econômica

Por Simon Kennedy.

Relato de um território monetário antes pouco conhecido: há pouco a temer.

Agora que a Suécia e a Suíça mostraram que as taxas básicas de juros negativas não necessariamente se traduzem em fugas de dinheiro, bolhas de ativos ou tensões bancárias, os gigantes globais dos bancos centrais talvez estejam mais dispostos a aceitar custos de empréstimo abaixo de zero da próxima vez que as economias sofrerem uma queda.

“Há uma chance muito real de que o pouco ortodoxo se torne a nova ortodoxia”, disse Alan Ruskin, diretor global de estratégia do Deutsche Bank para moedas do G10 em Nova York.

Embora os mercados financeiros estejam focados no iminente aumento das taxas do Fed, os responsáveis pela política econômica e os economistas já estão mudando de atitude em relação às taxas negativas.

O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, está aberto a reduzir a taxa que ele cobra dos bancos por deixarem dinheiro nos cofres do BCE durante uma noite ainda mais em território negativo. O presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, também reavaliou sua maneira de pensar e disse que a taxa de referência poderia cair abaixo de 0,5 por cento se fosse necessário, enquanto que antes sua preocupação era de que cortes mais profundos provocassem turbulências nos mercados monetários.

Enquanto isso, a presidente do Fed, Janet Yellen, disse na semana passada que “se as circunstâncias mudarem”, então “possivelmente qualquer coisa, incluindo taxas de juros negativas, seria uma opção”. Um de seus colegas já considera que essas taxas devem ser aplicadas no ano que vem.

Padrão

Atingir profundidades novas da próxima vez que as economias cambalearem seguiria o padrão das últimas décadas, em que na maioria dos casos cada pico e cada queda das taxas foram inferiores aos do ciclo econômico anterior.

Em 1984, o então presidente do Fed, Paul Volcker, elevou a taxa de juros para para 11,75 por cento e dois anos depois cortou-a para 5,88 por cento. Em compensação, na última expansão a taxa de referência atingiu um pico de apenas 5,75 por cento antes de ser quase zerada.

Entre os motivos para esse padrão está o sucesso em eliminar a inflação em economias que tinham sido castigadas por aumentos de preços de dois dígitos no começo da década de 1980. A redução da volatilidade deu às autoridades mais margem para tentar impulsionar a demanda e, como diriam os críticos, as bolhas de ativos.

O objetivo das taxas negativas é estimular gasto e empréstimo penalizando os poupadores e os bancos que não utilizam o dinheiro. Também ajuda que elas tendam a enfraquecer as moedas.

A taxa básica da Suécia já é de -0,35 por cento e a da Suíça, de -0,75 por cento. A taxa de depósitos do BCE é de -0,2 por cento e pode ser cortada ainda mais no mês que vem, enquanto na Dinamarca é de -0,75 por cento.

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