Por Leonid Bershidski.
Será que Marine Le Pen ainda poderá vencer a eleição presidencial na França se seus opositores não votarem no segundo turno, em 7 de maio? Esse desfecho parece possível depois que muitos potenciais eleitores de Hillary Clinton, seguros de que ela venceria, não se deram ao trabalho de votar no ano passado, entregando a presidência dos EUA a Donald Trump. Porém, a eleição na França é diferente dos EUA e o potencial caminho para uma vitória de Le Pen é muito mais estreito que o de Trump.
A primeira razão é que os institutos franceses de pesquisa de intenção de voto têm um histórico de sucesso muito melhor do que os americanos na previsão de resultados eleitorais.
Muitas enquetes estaduais, especialmente nos Estados do Centro-Oeste onde Trump surpreendentemente venceu, superestimaram a participação de seus oponentes democratas na votação.
Na França, os institutos de pesquisa estimaram com precisão os resultados do primeiro turno, mas subestimaram a participação do eleitorado. Ainda em 19 de abril, Ifop e Cevipof previam participação de 72 por cento, mas no dia da eleição, 78,69 por cento dos eleitores franceses apareceram para votar.
Eleições com dois turnos têm uma dinâmica diferente daquelas com um só. Um eleitor suficientemente interessado no processo para decidir votar uma vez tem incentivo para acabar o que começou. O voto tático não é uma escolha angustiante entre alternativas imperfeitas porque não há opção melhor: é a norma após as pessoas votarem de acordo com sua consciência no primeiro turno. Portanto, a participação costuma aumentar no segundo turno.
Os eleitores de esquerda que apoiaram Jean-Luc Melenchon e Benoit Hamon rejeitam igualmente a nacionalista Le Pen e Emmanuel Macron, que já foi banqueiro. As pesquisas de opinião dão vantagem de 60-40 a Macron no segundo turno. Assim, é possível que algumas pessoas não se sintam motivadas a votar apenas para frear a ameaça nacionalista-populista.
Após a vitória de Trump e do Brexit, os pesquisadores franceses se esforçaram para contemplar eleitores difíceis de alcançar, como os jovens, idosos e moradores de áreas rurais. Não há motivos para crer que seus modelos deixarão de funcionar nos próximos 10 dias.
Le Pen ficou menos de 3 pontos percentuais atrás de Macron no primeiro turno, mas, para vencer, precisa conquistar muitos eleitores dos principais candidatos derrotados ou a grande maioria dos eleitores que se sentem “órfãos” de algum deles. Não há indicações de que isso acontecerá. Considerando a inflexibilidade da plataforma e da imagem de Le Pen, não há muito que ela possa fazer para conquistar eleitores adicionais. Os franceses sabem quem ela é e o que ela defende.
É claro que Macron pode dar um tiro no pé. Ele já errou ao comemorar sua chegada ao segundo turno no restaurante La Rotonde, onde poucos eleitores conseguiriam pagar um jantar. Mas até agora, ele parece estar firme.
Ou seja, o caminho de Le Pen até a presidência é tão estreito que a vitória dela seria uma zebra ou “cisne negro”, nas palavras de Nassim Taleb. Segundo ele, quando a mídia começa a discutir determinados eventos improváveis, sua probabilidade de concretização costuma ser superestimada. Talvez seja isso o que acontece com as reportagens alarmistas dando conta de que uma baixa participação do eleitorado daria a vitória a Le Pen.
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