Por Joao Lima.
Para Sandra Silveira, que administra uma loja de colchões na região central de Lisboa, 2017 tem sido decepcionante. Aos 44 anos, sentada em um showroom deserto, ela disse que os incipientes sinais de recuperação do ano passado evaporaram.
“Não está acontecendo nada, nada”, disse Silveira. “Se continuarmos assim, 2017 será um ano muito ruim. E não era essa a expectativa.”
A experiência de Silveira é um exemplo de um problema mais amplo que está atrasando Portugal. Em países com a Irlanda, o gasto de consumo está ajudando a impulsionar a recuperação e a tirar a economia da armadilha da dívida. Este não é o caso de Portugal, dois anos após deixar seu programa de resgate internacional, mesmo tirando proveito do impulso do turismo.
Afetado pelo crescimento lento, o país ibérico possui uma das piores cargas de dívidas da UE, o que preocupa tanto os investidores quanto as autoridades europeias. O rendimento dos títulos de 10 anos do país está em torno de 4 por cento, mais de duas vezes os custos dos empréstimos enfrentados pela vizinha Espanha.
Os mercados estão “nervosos” com o nível de endividamento, o setor financeiro e a competitividade de Portugal, disse Klaus Regling, responsável pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade, a jornalistas, em Bruxelas, no mês passado.
A economia de Portugal cresceu 1,4 por cento no ano passado, ritmo novamente mais lento que a média da zona do euro. Apesar de ter caído, o desemprego no país continua em 10,5 por cento, o que atrasa qualquer recuperação mais forte do gasto de consumo.
O governo de minoria do Partido Socialista elevou os impostos indiretos sobre alguns produtos, reverteu os cortes salariais dos funcionários públicos e aumentou o salário mínimo. A Comissão Europeia estima que o crescimento do gasto do consumo cairá mais nos próximos dois anos.
A empresa de varejo Jerónimo Martins divulgou um crescimento de 1 por cento das vendas comparáveis de sua rede portuguesa de supermercados, a Pingo Doce, uma fração do ganho de 9,5 por cento da unidade polonesa Biedronka.
Injeção bancária
Sem um crescimento mais rápido, as dívidas continuam sendo um problema. A taxa de endividamento de Portugal subiu para um total estimado em 131 por cento do produto interno bruto no fim de 2016 porque o governo captou recursos para uma injeção de capital planejada de 2,7 bilhões de euros em um banco estatal. Em contrapartida, a taxa de endividamento de outro país resgatado, a Irlanda, caiu para 75 por cento.
Portugal realizou um pagamento adiantado planejado de 1,7 bilhão de euros de sua dívida com o Fundo Monetário Internacional na semana passada, disse o primeiro-ministro António Costa no sábado, segundo a agência de notícias Lusa. Após esse pagamento, a dívida de Portugal está, agora, 1 ponto percentual do PIB mais baixa do que antes, segundo a agência.
“O financiamento e o custo do financiamento são questões que preocupam muito esse governo”, disse o ministro das Finanças português, Mário Centeno, no Parlamento, na quarta-feira.
Mas há alguns sinais de esperança. Os custos dos empréstimos de curto prazo continuam baixos, sendo que os rendimentos dos títulos de dois anos caíram a um nível recorde na sexta-feira. A economia cresceu mais do que o esperado no terceiro e no quarto trimestres, e os turistas estão visitando o país. Na semana passada, a operadora ANA-Aeroportos de Portugal disse que o movimento de passageiros atingiu um nível recorde em 2016.
“As vendas para estrangeiros aumentaram”, disse Encarnação Ramos, 62, que trabalha em uma loja que vende bolsas e sapatos na região central de Lisboa.
No entanto, a maioria dos clientes dela são portugueses, que evitam comprar.
“Para os clientes portugueses, estamos vendendo mais ou menos o mesmo que em 2012”, disse ela.
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