Por Yalman Onaran.
Da última vez que os grandes bancos dos EUA ganharam tanto dinheiro, o mundo financeiro caminhava para a beira do abismo. Desta vez, as regulamentações rígidas ao setor é que estão em perigo.
Segundo dados compilados pela Bloomberg, 10 dos maiores bancos do país, incluindo JPMorgan Chase e Bank of America, lucraram juntos US$ 30 bilhões no trimestre passado — poucas centenas de milhões a menos do que o recorde atingido no segundo trimestre de 2007. Essa proeza acontece em um momento em que a longa campanha do setor contra as regras impostas após a crise ganha aceitação pelo governo do presidente Donald Trump.
Há muito tempo os bancos criticam os regulamentos implementados para limitar o risco, afirmando que prejudicam os mercados de capitais e desincentivam empréstimos a consumidores e empresas. Repetindo esses mesmos argumentos, Trump determinou que órgãos reguladores encontrem formas de flexibilizar essas regras. Porém, no segundo trimestre deste ano, as atividades de empréstimo impulsionaram os lucros dos bancos, apesar da desaceleração da receita de unidades mais voláteis que negociam instrumentos financeiros.
“Isso mostra que a legislação que aprovamos não retardou de maneira alguma a capacidade dos bancos de ganhar dinheiro”, disse Barney Frank, ex-parlamentar que deu nome à lei de 2010 que impôs supervisão mais severa ao setor. Segundo ele, os bancos estão dando suporte à economia americana.
O segundo trimestre não foi um ponto fora da curva. Mesmo considerando os últimos 12 meses, os lucros somados ainda ficam próximos do patamar de 2007. O dado de 2007 inclui ganhos de gigantes de Wall Street que eram independentes na ocasião, como Merrill Lynch e Bear Stearns, que foram adquiridos por rivais maiores quando sucumbiram à crise. As 10 maiores instituições da lista deste ano são bancos dos EUA com os níveis de lucro líquido mais elevados e que têm pelo menos US$ 100 bilhões em empréstimos concedidos.
O grupo gera atualmente mais de US$ 57 milhões em lucro por hora de trabalho.
A Lei Dodd-Frank introduziu mudanças amplas, como a restrição às apostas de dinheiro próprio dos bancos nas cotações do mercado, estabelecendo um novo sistema para assumir e enxugar firmas perto do colapso, além de simplificar as transações com derivativos. No resto do mundo, órgãos reguladores alteraram as regras de exigência de capital, obrigando os bancos a reservar mais dinheiro para absorver perdas em uma situação de piora da economia. Também foram introduzidas regras de liquidez para garantir que os bancos tenham dinheiro e ativos fáceis de vender para aguentar a fuga de investidores em pânico.
O setor argumenta que as regras são exageradas e foram se empilhando sem análise suficiente sobre como interagem.
O presidente do JPMorgan, Jamie Dimon, declarou em 14 de julho que os bancos teriam concedido US$ 2 trilhões a mais em empréstimos nos últimos cinco anos se as regras não fossem tão severas.
Os empréstimos aumentaram nos últimos seis anos, mas longe do ritmo de crescimento observado antes da crise. O total líquido de empréstimos concedidos por bancos dos EUA avançou 31 por cento entre 2011 e o primeiro trimestre deste ano, segundo dados da Federal Deposit Insurance Corp. Entre 2001 e 2007, a expansão chegou a 54 por cento.
No entanto, mesmo que os grandes bancos estejam ganhando tanto agora quanto antes da crise, eles não são tão lucrativos quanto antes segundo diversas métricas. Entre os sobreviventes da crise, o retorno sobre os ativos é 35 por cento menor e o retorno sobre o patrimônio é menos da metade do que se via naquela época.
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