Por Ben Bartenstein, Aline Oyamada e Justin Villamil com a colaboração de Cecile Gutscher.
A intensificação das ameaças comerciais entre EUA e China — as duas maiores economias globais — está criando oportunidades para compra de ativos de mercados emergentes, segundo algumas das maiores gestoras de recursos do mundo.
Após o governo do presidente americano, Donald Trump, propor tarifas sobre a importação de 1.300 produtos feitos na China, Pequim respondeu com uma taxação adicional de 25 por cento sobre aproximadamente US$ 50 bilhões em bens que compra dos EUA, incluindo soja, automóveis e aeronaves. A decisão causou nervosismo nos mercados globais, deixando as ações de países emergentes no nível mais barato desde dezembro de 2016. As perdas diminuíram após autoridades chinesas e americanas deixarem a porta aberta para negociações que possam evitar medidas tarifárias que levariam meses para entrar em vigor.
Para Simon Smiles, diretor de investimentos da UBS Wealth Management para os clientes com as maiores fortunas, a reação exagerada do mercado é mais um motivo para as gestoras de recursos aproveitarem a fraqueza dos papéis.
“Estamos totalmente dentro, em termos do impulso do crescimento e dos valores relativos, e isso em um contexto de visão construtiva dos ativos de risco de maneira mais ampla”, ele afirmou em entrevista à Bloomberg TV, acrescentando que sua instituição está com alocação concentrada em ações de nações emergentes e suas dívidas denominadas em moeda forte.
Seguem os comentários de outros administradores de recursos e estrategistas:
Gene Frieda, estrategista global da Pacific Investment Management Co. (Pimco):
– “A reação do mercado é confusa, refletindo a ausência de uma narrativa histórica que sirva como referência. As medidas chinesas hoje não surpreenderam, mas a resposta do mercado mostra que a confiança vem diminuindo.”
– “Não dá para separar postagens no Twitter contra empresas de tecnologia das medidas tarifárias contra a China. Trata-se de uma mudança substancial em relação ao primeiro trimestre, quando o mercado estava blindado contra más notícias.”
– A China tem um forte desejo de esfriar a situação
– Argentina e Brasil podem ser os “beneficiários não intencionais” das tarifas sobre a soja
Anders Faergemann, gestor sênior de fundos da PineBridge Investments:
– O aumento das tensões pode beneficiar ativos de países emergentes, uma vez que os mercados podem ficar menos otimistas em relação ao crescimento global sincronizado e os rendimentos dos instrumentos globais podem recuar, o que melhoraria a perspectiva de retorno de produtos focados em spreads, como os ativos de nações em desenvolvimento.
– “Contanto que a retaliação da China à provocação dos EUA permaneça razoável, que é nosso cenário básico, os instrumentos de renda fixa se beneficiarão; o apelo dos ativos emergentes segue forte, sendo favorecido à medida que os investidores voltam a pensar como em 2017.”
– Faergemann prefere pesos mexicanos e colombianos porque os investidores parecem exagerar o risco político associado às eleições nesses países.
Anastasia Levashova, gestora de fundos da Blackfriars Asset Management:
– Uma guerra comercial terá impacto misto sobre os países emergentes porque, se a China comprar menos soja, abacate e vinho dos EUA, vai comprar mais de nações em desenvolvimento. Por outro lado, ninguém sabe até que ponto a tensão pode se agravar.
– O indicador mais importante da competição direta entre EUA e China foi o lançamento de contratos futuros de petróleo denominados em renminbi, em uma tendência clara de valorização da moeda local e do saldo comercial chinês.
Kathy Jones, estrategista-chefe de renda fixa da Charles Schwab:
– “Parece um quadro misto para os emergentes. Por um lado, pode beneficiar produtores agrícolas como Brasil e Argentina, mas duvido que seja suficiente para compensar preocupações em relação ao protecionismo e à desaceleração do crescimento global.”
Sebastien Barbe, estrategista-chefe para mercados emergentes do Credit Agricole CIB
– “O risco de uma guerra comercial aumentou, mas ainda não chegamos a tal ponto. A China intensificou a retórica, mas acho que ainda estamos no estágio de negociações duras.”
– Se os riscos continuarem aumentando, as moedas asiáticas seriam as mais prejudicadas, em vista das cadeias de suprimentos e do fato de essas economias serem mais abertas ao comércio internacional.
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