Por Andrea Felsted.
O brilho está de volta. Este foi o recado dos grupos europeus de produtos de luxo que divulgaram resultados nas últimas semanas. Mas os múltiplos das ações estão ficando tão caros quanto uma bolsa Birkin.
Hermès International e LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton apresentaram faturamento robusto no quarto trimestre do ano passado. A Salvatore Ferragamo anunciou planos de expansão no dobro do ritmo do mercado até 2020. A Kering, que divulga os lucros de 2016 na sexta-feira, pode receber um impulso da reestruturação da Gucci.
Esses dados são favorecidos por uma base de comparação fácil. Um ano atrás, a China sofria com oscilações bruscas no mercado acionário e muitos consumidores adiaram viagens à Europa após os ataques terroristas em Paris.
Mesmo assim, está havendo uma recuperação ampla.
Os grandes gastadores chineses estão de volta. Algumas marcas de luxo ressaltaram melhora nas operações em Hong Kong e Macau, as regiões mais afetadas pela campanha chinesa contra extravagâncias. A vida de quem atua no segmento de relógios e joias de luxo, no qual as dificuldades pareciam mais arraigadas, talvez esteja ficando mais fácil.
Embora 2016 tenha sido o pior ano para as exportações de relógios da Suíça desde a crise financeira, a queda nos últimos meses tem sido menos acentuada, o que se reflete nos comentários positivos de Compagnie Financière Richemont e The Swatch Group.
A perspectiva para as marcas de luxo da Europa parece melhor do que há um ano, mas os múltiplos das ações também estão bem mais esticados. Sem uma aceleração significativa a partir daqui ou uma disparada nas fusões e aquisições, não está claro se terão mais fôlego.
O indicador Bloomberg Intelligence Luxury Peer Group subiu 20 por cento no último ano e a razão entre preço e lucro é de 18,6 vezes — superior à do índice global de bens duráveis e vestuário da MSCI e à do S&P 500.
Há motivos para otimismo em relação ao ambiente para os bens de luxo. A China deve se manter firme e os cortes de impostos para os americanos mais ricos podem estimular a demanda por roupas de estilistas famosos e relógios chiques.
Analistas da Exane BNP Paribas projetam retomada do crescimento do mercado de luxo para mais de 5 por cento no primeiro semestre, um salto em relação à estabilidade observada em 2016.
Não só isso, a perspectiva de fusões e aquisições tem avançado. Os grandes grupos de bens de luxo estão com bala na agulha para fazer negócio.
Burberry Group, Michael Kors Holdings e Tiffany já foram citadas como alvos potenciais. O ambiente mais benigno e o desempenho mais forte da Puma podem finalmente convencer a Kering a abrir mão da participação de 86 por cento na companhia.
Porém, as comparações vão ficar mais difíceis no segundo semestre. A melhora começou a aparecer no último semestre de 2016, portanto os dados de vendas não crescerão tanto em bases anuais. E as incertezas políticas permanecem — desde as políticas comerciais do presidente americano Donald Trump até eleições na França e Alemanha. O luxo faz sucesso quando os consumidores se sentem felizes e confiantes. Aparentemente é o que acontece agora, mas não se pode pensar que vai durar para sempre.
Os múltiplos sugerem extravagância. Esta festa pode não ir longe.
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