Por Josué Leonel e Marisa Castellani.
O mercado espera uma retomada lenta da economia após a confirmação de que o PIB brasileiro caiu 3,6% em 2016, na segunda queda anual seguida. A volta do crescimento deve ser insuficiente para reduzir a sensação de aperto para a maioria da população no curto prazo. O principal alento é que o espaço permanecerá aberto para os juros continuarem caindo, com possibilidade de aceleração do ritmo.
A economia brasileira, que vem de oito trimestres seguidos de retração, deve ter mostrado uma “inflexão” já neste primeiro trimestre do ano, diz relatório do Goldman Sachs assinado pelo economista Alberto Ramos. Ele vê uma recuperação lenta, com o mercado de trabalho fraco e o endividamento elevado das famílias e empresas travando o crescimento.
Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, prevê crescimento de 0,4% do PIB no primeiro trimestre, com ”leve viés de alta”. Ele lembra que certos dados já apontam alguma retomada da atividade, como os de consumo de energia elétrica, tráfego de veículos pesados e produção de alumínio. O crescimento, contudo, deve seguir abaixo do potencial do país por muito tempo, diz Oliveira.
“O importante é que o mercado espera algum crescimento em 2017 e uma expansão mais robusta em 2018”, diz Olavo Souza, operador de renda fixa da Mirae Corretora. Mesmo com a economia retomando algum crescimento, o nível de atividade ainda deve se manter lento e, combinado com uma inflação “totalmente ancorada”, permite ao BC acelerar o corte da Selic para um ponto percentual em abril. O BC só vai manter o ritmo de 0,75 pp se houver algum “estresse” no exterior, diz o profissional.
Oliveira, do Fibra, um dos poucos economistas que previram a surpreendente aceleração do corte do juro para 0,75 pp em janeiro, vê 90% de chance de novo aumento do ritmo no mês que vem, para 1 pp. Se as expectativas de inflação continuarem melhorando, o corte pode ser até maior que 1 pp, diz o economista, que prevê Selic de 8,5% no final do ano.
Tanto o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, quanto o líder do governo no Senado, Romero Jucá, usaram a expressão “retrovisor” nesta terça-feira para explicar o desempenho da economia em 2016. Ou seja, a recessão seria passado. O número foi “resultado de uma série de políticas que levaram a economia a enfrentar maior crise da história”, disse o ministro em discurso em Brasília.
De maneira geral, os analistas do mercado concordam com a ideia de que o mais relevante é a perspectiva de desempenho econômico daqui para frente. É praticamente consensual, entretanto, a ideia de que tanto as perspectivas de crescimento quanto o espaço para o BC cortar juros serão em grande parte determinados pelo cumprimento da “lição de casa”, com a aprovação de reformas no Congresso. “O PIB foi um super retrovisor. Os preços do mercado hoje têm mais influência do que vem de retomada no 2º semestre”, diz Raphael Figueiredo, analista da Clear CTVM.
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