Por Josué Leonel e Marisa Castellani, com a colaboração de Patricia Lara.
O dólar chegou a cair para R$ 3,23 nesta manhã e nada de o Banco Central intervir. O real se recuperou do impacto do Brexit sobre os mercados globais e acumula ganho mais de 4% contra o dólar desde o divórcio entre Reino Unido e União Europeia, melhor desempenho entre as moedas de países emergentes.
Discurso de ontem do presidente do BC, Ilan Goldfajn, reiterando o compromisso com a meta de inflação e o regime de câmbio flutuante, ainda que sem trazer novidades ante discurso anterior do próprio Ilan, foi entendido como um sinal favorável à moeda brasileira. E os dois compromissos, sobre inflação e câmbio, podem estar ligados.
“Esse BC não se preocupará com nível de câmbio”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. Para ele, o mercado responde à melhora de expectativas econômicas com o governo Temer e à percepção de que Dilma não volta, além do fato de os juros altos no Brasil terem ficado ainda mais atraentes comparados aos do exterior. “Com todo esse cenário não é difícil ver o câmbio indo a 3,00 e, diria mais, com as incertezas lá fora tanto os investimentos de curto prazo quanto os de longo prazo começam a ficar mais atrativos para cá”.
Um real mais forte pode ser oportuno para o BC, que precisa recuperar a sua credibilidade após seis anos de inflação acima da meta. A estratégia parece ser adiar o momento da queda dos juros e usar a credibilidade do BC e o câmbio para acelerar a queda da inflação, diz Vale. Sendo mais duro agora, o BC poderia diminuir a Selic para níveis mais baixos no futuro.
Para Vale, Ilan mostrou que não compra a tese “velha e errada” de que mais inflação pode representar mais crescimento. O BC teria mostrado isso ao insistir na meta de 4,5% para 2017. Vale considera que os movimentos recentes do BC sugerem que o Conselho Monetário Nacional, que se reúne amanhã, poderá reduzir a meta de inflação de 2018 para 4% ou 4,25%.
Segundo Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, o câmbio também pode ajudar a melhorar as expectativas da inflação, assim como a esperada recuperação da política fiscal. “O câmbio flutuante também ajudará, porque BC não fica tentando estabelecer um piso. Se fica na cabeça do mercado que existe um piso, as projeções (de inflação) não caem”.
O mercado não descarta que o BC volte a atuar em algum momento caso o real continue se fortalecendo, mas os analistas consideram que as atuações seriam pouco expressivas, mais para suavizar a volatilidade do que para fixar preço. Isso poderia marcar uma diferença com a política de Alexandre Tombini, que vendeu mais de US$ 100 bilhões em swaps cambiais desde 2013 sem, no entanto, evitar que o dólar disparasse para mais de R$ 4,00 em 2015.
Movimentos do câmbio são mais uma “reação do mercado ao Ilan do que efeito externo”, diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator. “É difícil um presidente do BC falar que o BC gosta de câmbio flutuante e que vai usar de moderação com instrumentos disponíveis, incluindo swap reverso, e o mercado não testar”.
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